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domingo, 31 de março de 2013

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DIGITAL DOS PÃES NA CORÉIA DO NORTE.



O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DIGITAL DOS PÃES NA CORÉIA DO NORTE.




Em pleno feriado cristão descubro que na Coréia do Norte os pães multiplicam-se milagrosamente. Jesus de Nazaré multiplicou pães e peixes. O líder coreano – que monta unicórnios - foi mais longe e multiplicou o pão, o gado, os soldados, os banhistas e os navios de guerra.


Estamos diante do milagre da multiplicação dos recursos de poder, da força, da produção e da riqueza. A Coréia do Norte quer dar ao mundo ares de potência militar, capaz de mobilizar fabulosos recursos e reunir grande capacidade de ataque para intimidar seus adversários.  As demonstrações de unidade e de força, nas intermináveis paradas militares, e as manifestações de fidelidade ao líder criam a imagem de um país movido por uma só vontade e disposto a se sacrificar em defesa do regime. 






Podemos ler ainda nas imagens, que estrategicamente vazam para o exterior, que o regime esforça-se para mostrar que o país goza de excelente situação interna, com fartura de alimentos e ótimas opções de lazer. 




 Mas o demiurgo, neste caso, não é um deus transcendente, nem o estado totalitário. O fazedor de milagres é uma criação norte-americana, uma divindade digital capaz de alterar a realidade e mostrá-la bem melhor do que realmente é conhecida como photoshop. O software da adobe system é o corretivo milagroso da precária realidade norte coreana. É a arma da propaganda totalitária do regime que se anuncia comunista, criada no mundo capitalista, para enfrentar o mundo, vejam bem!, capitalista.



Ao invés de multiplicar direitos, possibilidades sociais e espaços de liberdade, o regime multiplica mentiras. O photoshop é o “brinquedinho” favorito do regime norte coreano desde Kim Jong-il. O “brinquedinho” passou de pai para filho e esta sendo usado para forjar uma sociedade ideal, que combina a força militar, a unidade política e a felicidade do povo (Esta nem George Orwell conseguiu imaginar). Para que liberdade de expressão e o direito de escolher seus governantes se eles têm o software da maximização digital do poder e da felicidade? Na terra onde ditadores montam unicórnios direitos políticos são fantasmagorias do já superado sistema capitalista.



Mas isso pode ter um efeito indesejado para o ditador. Vai que o feliz povo coreano perceba que a sociedade criada digitalmente funcione melhor que a realidade e decida trocar Kim Jong-un por um avatar da adobe system? Para que governo, diriam os norte coreanos, se podemos ter um software que multiplica a riqueza e a força do país.

Quem diria, Adam Smith e Marx foram superados pelo photoshop. Não é mais o trabalho, nem o sobretralho, mas um software norte americano que produz a riqueza de uma nação. Eis a contribuição do regime norte coreano para a economia política. 




terça-feira, 26 de março de 2013

JORGE MAUTNER DERRAMOU "LÁGRIMAS NEGRAS" NO PARQUE DE COQUEIROS.



Jorge Mautner derramou “Lágrimas Negras” no Parque de Coqueiros.




“A arte, para mim, é para transformar o mundo. Sempre!”
(Jorge Mautner).

Jorge Mautner, o maior de todos os Jorges, o poeta do Kaos e do amor que não sente vergonha e não pede desculpas, desabou em Coqueiros, no início da noite de domingo. Chorou no final da musica Lágrimas Negras, enquanto cantava: “Belezas são coisas acesas por dentro. Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento. Lágrimas negras saem, caem, dói.” As poucas pessoas que estavam lá, debaixo de chuva, assistiram a um show inesquecível, com as canções clássicas, as declamações, o “ufanismo” singularmente modernista (se o mundo não se abrasileirar, ele vira nazista), e uma homenagem linda ao excelente e originalíssimo violonista (instrumentista) Nelson Jacobina, falecido ano passado. Nelson, disse Mautner, estava com metástase e sobreviveu por inacreditáveis quatro longos anos. No palco aguentava shows de duas horas e meia, e as dores misteriosamente sumiam. Nelson foi parceiro de Mautner por quarenta anos. As lágrimas foram pelo amigo. Lágrimas nossas. Jorge não chorou sozinho. 



Jorge Mautner é único, e incomparável. Embora não cante bem, e o violino, que o acompanha sempre, seja sofrível, ele é um dos artistas mais originas da música brasileira. Composições geniais como Vampiro, Maracatu Atômico, Orquídea Negra, Árvore da Vida, a Bandeira do Meu Partido, entre tantas outras, correm à margem da MPB desde 1958. Alguns discos, como Bomba de Estrela, Para Iluminar a Cidade, O Filho Predileto de Xangô, Antimaldito, O Ser da Tempestade, Estilhaços de Paixão e Árvore da Vida são seminais e estão, em minha opinião, entre os mais importantes da MPB. No entanto, Mautner é desconhecido do grande público. Tom Zé também.

Mautner é um filósofo interrompido, caótico e iluminado. É de uma pureza tocante e um coração que não cabe dentro do peito. Como não gostar desse cara?!! Deste liquidificador que mistura Jesus de Nazaré com Nietzsche, o candomblé com o ateísmo de Hannah Arendt, o existencialismo com Ismael Silva, Maiakovski com marchinha de carnaval e cita José Bonifácio no meio do show (sem parecer pedante ou inconveniente). Só ele consegue isso. Só ele consegue homenagear, como fez em Coqueiros, Pancho Villa, Benito Juarez, Zapata e Hugo Chávez, e isso não soar estranho, forçado. É um apaixonado pela “cultura brasileira”, pelo “amálgama” singular que criamos historicamente (José Bonifácio, diz Mautner, foi o primeiro a reconhecer a grandeza das nossas misturas). Foi uma espécie de prototropicalista, que misturou samba com rock quando ninguém fazia isso, e depois um tropicalista de viés que nunca frequentou a estrada principal da MPB. Mautner é um modernista incorrigível, um socialista carnavalizado, um cavalheiro do kaos a espalhar “estilhaços de paixão”. No palco fala tanto quanto canta, mas fala do seu jeito. Não esperem dele um discurso organizado, centrado, linear. Despreocupadamente, emenda uma frase na outra, mistura temas, fala por atalhos, não termina uma ideia e já apresenta outra. E assim ele nos leva a um precipício de emoções e nos conduz pelos caminhos ambíguos de sua mente labiríntica, com o seu raciocínio quântico e suas elucubrações improváveis. As frases vão saindo de improviso, meio desconexas, com sacadas geniais, e no fim, para quem se dispôs a ouvi-lo, elas fazem sentido.

Mautner era filho de um judeu austríaco e uma católica. A família fugiu no nazismo e veio parar no Brasil, onde Mautner nasceu em 1941 (Daí o título do documentário "Jorge Mautner, o filho do holocausto", dirigido por Pedro Bial e Heitor D´Alincourt). Sua mãe estava grávida de oito meses quando fugiram para o Brasil. “Quase toda a família de minha mãe (e do pai) foi executada. Tudo o que escrevi, compus e senti, diz Mautner, gira e girará em torno disso.” 


Jorge Mautner gosta de contar episódios de sua vida, de sua mitologia particular, e transformá-los em motivos para os seus voos filosóficos. Reza a lenda que entrou de furão no festival de Woodstock, quando a entrada ainda era cobrada. Conta-nos, por exemplo, que teve uma babá negra, chamada Lúcia, filha de santo no candomblé, até os sete anos. Com ela aprendeu as primeiras lições de vida. “Um dia, nos conta Mautner, Lúcia disse para mim: ‘meu filho, seus pais vieram de um país onde tem muita gente má. Mas pode ficar tranquilo que aqui a gente gosta de você e nós vamos lhe tratar bem, viu?’” Um dia, passeando com Lúcia nos jardins do Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas se aproximou dele e puxou conversa. Perguntou de onde ele era. Jorge Mautner respondeu: “Eu sou brasileiro, mas meus pais, coitadinhos, eles são estrangeiros.” O Brasil, generoso, como ele gosta de dizer, o recebeu e ele passou a fazer parte desse amálgama de culturas e povos. Tornar-se-ia, prematuramente, a expressão artístico-filosófica dessa “mistura”.



Em 1962 entrou para o Partido Comunista, foi preso durante a ditadura e aconselhado a moderar o tom. Foi para os Estados Unidos, depois para Londres onde encontrou Caetano Veloso e iniciaram uma parceria que dura até hoje. Uma das últimas músicas composta pelos dois foi Tarado. Procurem. Vale a pena ouvir. Mautner escreveu vários livros e dirigiu um filme (Demiurgo, de 1970).  Aos quinze anos publicou seu primeiro livro – Deus da Chuva e da Morte – que ainda pode ser encontrado a net para compra. Transcrevo um fragmento:

"Ouvir rock, ver a chuva, beijar uns lábios, deitar com uma ou outra carne na cama e sentir o sexo. Depois de horas e horas de pensamento e desistência e ridículo e paradoxos e uma vontade louca de viver! Mas o sono me puxando poderosamente. Então eu ouço Rock e olho a chuva e penso no sexo. Depois tudo se mistura porque na verdade tudo existe misturado: o sexo, o Rock, a chuva e então eu durmo. Eu durmo e durmo e sonho em ritmo de rock e vejo a chuva no sonho e o sexo se sobressaindo em todos os lugares. Sonhos agitados nos quais existe algo que eu esqueci de citar. Algo que balança que nem uma bandeirinha vermelha em meio à chuva, ao sexo e ao Rock. É a infância. Será que o Rock, a chuva e o sexo não passam de infância e que só a infância presente existia? Só a infância presente existe! Lembre-se disto: só a infância presente existe!"

Está com 72 anos, completados no último 17 de janeiro, e sobe no palco com uma disposição admirável.  Eu acompanho a trajetória de Mautner nos palcos desde os anos 80. No show de domingo ela demonstrou o mesmo vigor, e a mesma paixão, de trinta anos atrás. O público, como sempre, era reduzido, mas, como sempre, cantou do começo ao fim todas as canções: “Atrás do arranha-céu tem o céu, tem o céu. E depois tem outro céu sem estrelas. Em cima do guarda-chuva tem a chuva, tem a chuva. Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las” (Maracatu Atômico).


Se tem alguém que vive verdadeiramente de acordo com a máxima de Paulo Leminski (“distraídos venceremos”), esse alguém é Jorge Mautner. Um artista sem artifícios, sem máscaras. Um vampiro tropical, romântico “tardio” e generoso, que canta o amor com sangue e flor: “Você é uma loucura em minha vida. Você é uma navalha para os meus olhos. Você é o estandarte da agonia. Que tem a lua e o sol do meio-dia” (Vampiro).
Eu adoro esse cara. 

Só mesmo Jorge Mautner, o profeta do absurdo, para me fazer sair de casa num domingo chuvoso, com capa e guarda chuva, atravessar a ponte e ficar a céu aberto assistindo um show!

"Nos demais todo mundo sabe o coração tem moradia certa, fica bem aqui, no meio do peito... mas comigo a anatomia ficou louca. Sou todo coração...” (Poema de Maiakovski citado na música Perspectiva).



“Vejam a chuva e o Sol
Um são raios a outra são águas
Uma é samba o outro é rock n roll
Mas ambos tem as mesmas mágoas”

Jorge Mautner



sábado, 23 de março de 2013

RAUL, HOJE “EU TAMBÉM VOU RECLAMAR”.



RAUL, HOJE “EU TAMBÉM VOU RECLAMAR”.


Sou muito tranquilo, mas acordei hoje de manhã com uma vontade absurda de reclamar de alguma coisa. Sabe como é? Levantei cedo e fui até a cozinha, olhei para os lados, voltei de ré, sentei na sala, levantei, abri a porta que dá para o pátio, voltei para a sala, liguei a TV (os cachorros só me acompanhavam com os olhos), peguei uma revista. E nada. A vontade de reclamar não me abandonava. Acho que foi o efeito dos filmes de terror que encarei na madrugada. Liguei mecanicamente o computador, sem saber o que queria, e me deparei com uma foto de um rapaz, participando de um protesto, que segurava um cartaz com uma frase divertida sobre o “descobrimento do Brasil”. Finquei os olhos na foto e pensei: “Em outra situação eu simpatizaria contigo”. 

E assim começou este post...

O que dizer desta foto? À primeira vista, parece questionadora. Mas acho que não resiste a uma segunda mirada. A frase é criativa, provocadora. O perfil dos manifestantes me agrada. Mas não sei não. Tem uma coisa estranha nesta frase. Não acham? Aliás, duas coisas estranhas. Para ir direto ao ponto, temos um anacronismo e um equívoco em uma frase com oito palavras e um número.



Como forma de protesto, o efeito da frase funciona. Mas a frase de protesto, que questiona certa visão de história, pode também ser questionada, não é mesmo? Mas Paulo, o rapaz que segura o cartaz está usando de licença poética. É a necessária liberdade para transgredir as normas, de respirar sem aparelhos, e expressar-se livremente sem obedecer a gramática histórica. Eu sei, eu sei. Faço isso às vezes. É bom para escapar do redil canônico da área à qual estamos ligados. Mas essa maldita vontade de reclamar não me deixa em paz. E quando estou assim, fico paralisado. Se não reclamar de alguma coisa agora vou acabar sentado no sofá com o controle remoto na mão, feito um zumbi, procurando nada na tv. E o que eu tenho no momento é este cartaz. É isto ou isto.

Acredito nas boas intenções do rapaz. Afinal, salvar o mundo é um gesto nobre. Mas, repito, tem alguns problemas com a frase no cartaz. Parece querer inverter a tese de que Cabral descobriu o Brasil. Se for uma “brincadeira” com a velha versão oficial do descobrimento, eu entendo. O humor é desconcertante e derruba velharias e teimosias históricas. Mas se não for uma brincadeira, se o rapaz está levando a coisa a “sério”, e a expressão dele parece dizer isto, a situação se complica. Trocar uma versão histórica, digamos, tradicional, porém satisfatória e documentada,  por outra fantasiosa, e imprecisa, não me parece uma troca inteligente. Além disso, as historiografias brasileira e portuguesa nos oferecem novas versões, e não inversões duvidosas, sobre o tema do descobrimento.

Vamos “brincar” de historiador, entrar na onda, e protestar também? Posso, Raul?

1.       “Índios Brasileiros”, em 1500? É uma impossibilidade histórica. A razão é bastante simples. Parafraseando Edmundo O´Gorman, em 1500 o Brasil simplesmente não existia. Então não poderiam existir “índios brasileiros”, certo? O mesmo argumento me leva a dizer que Cabral nunca descobriu o Brasil, de acordo? Ah, Paulo, mas isso é rigoroso demais. Não, não é não. Isso se chama pensar historicamente. E um pouco de rigor, às vezes, ajuda a colocar as coisas no lugar. Além disso, estou no meu momento reclamão. Vamos em frente?

Vários náufragos foram encontrados pelos “índios” nas costas da América Portuguesa. Não vou entrar na discussão sobre o conceito de “índio”, mas neste caso seria admissível falar de uma descoberta por parte dos índios. Vários grupos indígenas de fato encontraram espanhóis e portugueses naufragados, perdidos no mar. Algumas vezes os acolherem bem. Outras não. Vários tripulantes da expedição francesa que explorava a costa da atual Bahia, por volta de 1510, que sobreviveram ao naufrágio e conseguiram alcançar a praia foram mortos pelos tupinambá. Diogo Álvares Correia, o Caramuru, sobreviveu porque impressionou os índios ao atirar num pássaro com uma arma de fogo (um mosquete). Neste caso, os índios descobriram o poder da arma de fogo. Diogo Álvares Correia foi apelidado de “pau que cospe fogo” (Caramuru). São tantas as descobertas. Pequenas e grandes descobertas. Mas o pessoal parece que implica mesmo é com a descoberta do Cabral. Por quê? O problema não é Cabral, mas certa visão histórica sobre o Brasil. O navegador português foi, na verdade, o nome eleito pela historiografia apologista da colonização portuguesa para fixar uma origem para o Brasil. Questionar a descoberta de Cabral é questionar uma interpretação do Brasil que embalou a formação do estado nacional e a construção de uma identidade nacional europeia. Eu sei disso. Mas não basta inverter as coisas, seus reclamões.

2.       Cabral Perdido no Mar? Com dez naus e três caravelas, além de contar com marinheiros experientes, a frota de Cabral era a mais bem equipada a zarpar de Portugal. Não. Cabral tinha endereço certo. Viajava com as instruções de Vasco da Gama, com informações detalhadas sobre o percurso. Duarte Pacheco, o cosmógrafo que acompanhou Vasco da Gama às índias dois anos antes, estava na esquadra de Cabral. Existe uma suspeita bastante razoável de que Duarte Pacheco tenha refeito a rota da viagem de Vasco da Gama, antes de embarcar com Cabral, com o intuito de explorar a "quarta parte", o quadrante oeste do Atlântico Sul. Mas não existe documentação que comprove definitivamente a realização dessa viagem. A Coroa portuguesa, e a espanhola, mantinham uma política de sigilo nos empreendimentos marítimos.

A rota era conhecida. De Lisboa a Calicute, com a “volta do mar” no meio do caminho, não tinha erro. O desvio para “achar” as terras de cuja existência se suspeitava desde a viagem de 1488 fazia parte dos planos da expedição. A ausência de surpresa na carta do contador Pero Vaz, como se eles já esperassem encontrar as terras, é um dos fortes indícios a favor desta tese.


3.       Se vamos falar de “descobrimento”, vamos ser justos. A iniciativa foi portuguesa, eles atravessaram o mar e foram ao encontro das terras que Vasco da Gama suspeitava existir. Não vejo problemas com o termo descobrimento. Descobrir, para simplificar as coisas, quer dizer “encontrar o que era desconhecido”. Francisco Adolfo de Varnhagen, em 1850, já dizia que os portugueses, em 1500, estavam vendo a exuberância da costa do futuro Brasil pela primeira vez. Este era o sentido de descoberta para Varnhagen. Acho que, neste ponto, ele foi certeiro.

Alguns questionam afirmando que Cabral e Colombo não foram os primeiros a encontrar ou topar com estas terras. E não foram mesmo. Mas a questão não é essa. O importante a considerar foram os efeitos sociológicos das viagens destes dois navegadores. Os que chegaram aqui antes deles não registraram o feito, não o tornaram público. As viagens de Cabral e Colombo não apenas foram registradas e conhecidas em toda a Europa, como resultaram em outras viagens que deram início a ocupação e colonização das terras descobertas. Ouve, portanto, um descobrimento que resultou num movimento em larga escala de ocupação das terras até então desconhecidas.

Alguém poderia objetar dizendo que lá no século XV para o XVI não se usava a palavra descobrimento. Não creio que isso seja um problema. Se usarmos a palavra para dizer que os portugueses encontraram o que até então desconheciam, mesmo que suspeitassem, não tem problema. Nós usamos signos e conceitos do presente para pensar o passado.

Entendo a causa que está por trás do cartaz. Mas não é desta maneira que os ditos “índios” vão tornar-se, de acordo com o velho jargão dos historiadores, “sujeitos da história”, nem do ponto de vista historiográfico, nem social. Não é o “nosso” voluntarismo, combinado com uma visão romântica sobre os “índios”, e muito menos frases de efeito (duvidoso), que vão resolver alguma coisa. O que poderíamos fazer? Não tenho a menor ideia. Nós continuamos sem entender os “índios”. Quanto mais leio sobre eles, mais aprendo sobre os historiadores, os antropólogos e os etno-historiadores.


A frase do cartaz é também o nome de um movimento em favor das causas indígenas. Eles têm uma página do facebook.
 


Pronto, reclamei. Estou mais aliviado. Vou fazer um chimarrão e ouvir Raul: “Eu vou lhe desdizer, aquilo tudo que eu lhe disse antes”.