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sábado, 11 de setembro de 2021

“SÓ DEUS ME TIRA DE BRASÍLIA”

Charge do Portal Amazônida

A prova mais cabal de que Bolsonaro não tem respeito algum pela democracia e pela decisão das urnas, se não forem a seu favor, é a frase dita no palanque da Avenida Paulista no espetáculo autoritário do 7 de setembro: “Só deus me tira de Brasília”. Na motociata em Santa Catarina ele já havia dito a mesma coisa aos admiradores: “Só uma coisa me tira de Brasília: é o nosso Deus”.

Não é o voto, não é a vontade da maioria dos brasileiros. É só deus, o deus dele, do Malafaia e do Marco Feliciano, que o tira de Brasília. Bolsonaro não se submete às regras do jogo, que ele mesmo ajudou a construir, e não respeita a decisão de ninguém. Só dialoga consigo mesmo e com quem o apoia. E ainda assim os frustra, como no caso dos caminhoneiros e do recuo em relação ao STF. Mobilizou o “seu povo”, jogou-os contra STF, insultou Moraes no 7 de setembro, e no dia seguinte tentou desfazer a lambança. Chamou Michel Temer, o Salvador Geral da República (SGR), que chegou com a carta pronta. Temer sempre tem uma carta na manga e gosta também de pensar que é um enviado de deus. Num pronunciamento no Planalto, em 2017, ele disse: “não sei como Deus me colocou aqui, dando-me uma tarefa difícil”. O deus deles, do Jair e do Michel, gosta um bocado de política. Tem o poder de colocar e de tirar presidentes. Com um deus desses, para que eleições?

O deus deles à parte, numa democracia Deus é o voto (e a Constituição que o garante). Foi o voto que elegeu Bolsonaro deputado por três mandatos, elegeu os filhos e o elegeu presidente da República. Ele se mostra profundamente ingrato e ignorante em relação ao regime político e ao sistema eletrônico de votação que lhe possibilitaram chegar à presidência da República.

As dúvidas que o presidente levanta contra as urnas eletrônicas, sem apresentar uma única prova, fazem parte do pacote autoritário que ele tem a oferecer. O descaso e o descompromisso com a democracia são itens essenciais deste pacote. Não respeitou a decisão do Congresso Nacional, que derrubou o voto impresso, e não pretende respeitar a decisão das urnas em 2021. A campanha obsessiva pelo voto impresso é só um prelúdio.

O Deus do Novo Testamento, que em nada se parece com o deus de Bolsonaro e Malafaia, disse por meio do seu filho: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes” (Mateus. 7, 15-20). Brasília e São Paulo estavam tomadas por falsos profetas no dia 7 de setembro. Um deles, do alto de um palanque, tentou comprometer o Deus de Mateus com as suas ambições despóticas. Era um lobo autoritário em pele de bom democrata. Falsos profetas e falsos democratas podem arrebatar multidões, mas não enganam aqueles que leram e entenderam a parábola da mulher adúltera (João, 8:11-11), cristãos ou não, e reconhecem nela uma lição fundamental do exercício do respeito às diferenças e às minorias, base das nossas democracias. Jesus desnudou a hipocrisia dos apedrejadores e deixou um legado de respeito e amor ao próximo. Portanto, não é do Deus de Jesus e de Mateus que o falso profeta que ocupa o Planalto fala. O deus dele é um deus orgulhoso, violento, armamentista, monetizado, apedrejador, seletivo, intolerante, e que, a qualquer momento, pode tirá-lo de Brasília. A menos que Temer, que também parece ser íntimo deste deus, tenha outra carta na manga para reverter a decisão "divina".

 


Charge de Sidney Falcão de Carvalho.

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