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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O MARTÍRIO DE FIDEL CASTRO EM NOME DA PAZ MUNDIAL: Lendo Uma Charge Hagiográfica.

O MARTÍRIO DE FIDEL CASTRO EM NOME DA PAZ MUNDIAL: Lendo Uma Charge Hagiográfica.



Pronto. Fidel Castro deu um passo decisivo em direção à canonização, à moda Guevara e Chávez, que certamente o aguarda no futuro (que eu espero esteja ainda distante). O gesto humanista de oferecer apoio/cooperação aos Estados Unidos e enviar médicos e enfermeiros aos países africanos que lutam contra o ebola carimbou o seu passaporte passa os domínios da santidade. Não faltarão dedicados hagiógrafos que comporão formidáveis necrológios sobre a virtuosa e libertadora passagem do comandante por este mundo. O gesto grandioso em direção à África, e a mão solidária estendida ao inimigo histórico, certamente merecerão páginas laudatórias. A charge acima não deixa dúvidas: enquanto o vizinho agressor mantém a ofensiva e renova o famigerado “bloqueio”, o eterno comandante, atravessado por balas imperialistas, estende compassivamente a mão oferecendo ajuda. Verdadeiro martírio em nome da paz mundial e em socorro dos povos. Um novo mártir se ergue nas Américas.

Eu corrigiria dois detalhes na charge para dar-lhe um tom definitivamente hagiográfico: tiraria o charuto, que não combina com o estado de saúde do comandante, nem com a condição de santidade, e trocaria o uniforme militar pelos trajes da adidas (trajes brancos). Os louros da vitória e as palmas do martírio, caídos aos pés do mártir, sugestão de última hora, emprestariam mais gravidade à cena. O ajuste dos detalhes evidenciaria ainda mais o contraste entre o homem que se entrega em holocausto, em nome da solidariedade universal, e a agressividade do império, o carrasco romano redivivo. A charge é a representação do calvário do comandante.

A declaração de Fidel Castro sobre a ajuda à África e a cooperação com os Estados Unidos apareceu num artigo publicado no último dia 18 de outubro, no Gramna, órgão oficial do regime, como antecipação aos temas a serem debatidos na “Cúpula Extraordinária da Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América-Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP)”, que aconteceu em Havana dois dias depois. O combate rápido e eficiente à epidemia, segundo Fidel, deveria ser um dos temas centrais do encontro. Como sempre, o discurso do oráculo de Havana pautou e orientou o encontro da cúpula bolivariana.

A ajuda cubana é pra lá de importante (mais de 160 médicos foram enviados para a África ocidental). Tão importante que o secretário John Kerry declarou o empenho de Cuba como “uma prova real de cidadania internacional”.  As declarações de Margaret Chan, diretora da Organização Mundial da Saúde, organização que coordena os esforços globais para dar combate à epidemia, e de Ban Ki Moon, não deixam dúvidas sobre o valor da ajuda cubana. A ajuda se torna mais importante ainda se olharmos da perspectiva dos povos que a estão recebendo. Não duvido das boas intenções e, sobretudo, da sensibilidade e capacidade dos médicos cubanos para lidar com a epidemia. Não questiono o gesto cubano, legítimo e generoso. O que me incomoda é a reverberação das ações do ditador aposentado entre os admiradores de plantão, sempre prontos para declarar para o mundo a grandeza do homem e silenciar sobre seus erros. Basta um simples gesto do comandante, e o dispositivo apologético, engatilhado há cinco décadas, dispara rasgados elogios e celebra sua extraordinária visão. E Fidel? Bom, Fidel apenas sendo o que ele sempre foi....Fidel! O homem preso dentro do próprio mito.

Íntegra do artigo de Fidel Castro Aqui: http://www.granma.cu/cumbre-extraordinaria-del-alba-tcp-sobre-el-ebola/2014-10-18/la-hora-del-deber




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