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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

MACDONALDS E COCA COLA EM CUBA: Socialismo Fast Food à vista?

MACDONALDS E COCA COLA EM CUBA: Socialismo Fast Food à vista?



A Cuba pós-embargos, embora seja ainda cedo para dizer qualquer coisa, já dá sinais do que pode vir pela frente. Poderemos ter uma combinação de socialismo castrista, (sustentado pela velha retórica revolucionária, pelo mito das conquistas sociais e comandado pelo estado patrão e provedor), com capitalismo fast food, impulsionado e revigorado pelo capital de multinacionais e pelos valores do consumo globalizado.  Frei Betto, em conversa recente com Fidel, tentou resumir o encontro do socialismo cubano com a sociedade do consumo que aos poucos chega a Cuba, por conta da retomada das relações diplomáticas com os Estados Unidos, usando a seguinte metáfora: um encontro de um caminhão consumista com um Lada [marca russa do carro mais usado em Cuba] da austeridade”. É uma boa metáfora, admitamos, mas eu faria uma pequena correção: o Lada não representa a “austeridade”, mas o atraso, a carência, o peso severo do passado e o colapso do socialismo castrista. O Lada é uma boa metáfora de um país que parou no tempo, que petrificou o “sonho” e o transformou em capricho de tiranos carismáticos, submeteu sua população ao isolamento e a carência e virou refúgio afetivo dos órfãos globais do socialismo.

Na mesma semana em que Fidel Castro, em mensagem à Federação dos Estudantes Universitários de Cuba (segunda, 26 de janeiro), em meio à retomada do diálogo com Washington, reafirmou os já carcomidos princípios da revolução e declarou que não confia nos Estados Unidos, seu filho, Álex Castro, disse numa entrevista à “América TéVé" que a Coca Cola e o Mcdonalds são bem vindos em Cuba e que  "podem montar uma fábrica da Coca-Cola aqui, por que não? Isso não nos afeta". "Somos vizinhos”, arrematou. “Podem produzir Coca-Cola aqui, podem trazer o McDonald's. Estamos fazendo um break do socialismo, mas não vamos renunciar a ele".
Um “break no socialismo”? O que isto quer dizer? Que o socialismo foi temporariamente suspenso? Que o regime cedeu, parou, está sendo revisto e abriu as portas para se renovar (com oxigênio capitalista do vizinho rico)? Seja lá o que Álex esteja querendo dizer com “um break no socialismo”, o caminho para a instalação de empresas estrangeiras e de uma cultura do consumo, antes abominada pela ditadura e seus sabujos, está aberto. O Castro filho deu sinal verde. O Castro pai, embora não confie no vizinho, parece que não tem opção melhor.
Será que em breve teremos nas ruas de Havana, ao lado dos outdoors da revolução e da onipresente e opressiva imagem do Che, outdoors da Coca e do Mcdonalds, dois dos mais poderosos e significativos símbolos do capitalismo globalizado? Teríamos uma composição de paisagem realmente curiosa, harmonizando a publicidade agressiva da sociedade do consumo com a propaganda totalitária da revolução, num cenário das décadas de 1960/70. Imaginem outdoors da Coca espalhados pela ilha, contrastando com os slogans surrados da revolução, e o M gigante da Mcdonalds ao lado da imagem do Che na Praça da Revolução! Parece coisa de ficção, não é? Mas depois que Fidel virou garoto propaganda da Adidas, nada que vem de Cuba, da Cuba dos Castro, surpreende. E se considerarmos que as imagens do Che, estampadas em camisetas, bonés, xicaras e chaveiros, tornaram-se nas três últimas décadas ícones do consumo mundial (a revolução virou mercadoria), o contraste não seria tão violento assim. Bobear o Mcdonalds, adaptando-se ao gosto local e as peculiaridades do regime cubano, inventa um McGuevara ou um BigCastro! Suspeito que os cubanos, exceto a oficialidade e os bajuladores, não aprovariam os lanches/homenagens. Embora apresentados como novidade, já viriam com cheiro de mofo e gosto de coisa velha.
E a turma da esquerda autoritária que reverencia o regime castrista e detesta o Macdonalds? Será que vai usar a máxima do Lênin (“dar um passo atrás para dar dois à frente”) para justificar a Mcpresença na ilha? Neste caso, se embarcarem na minha brincadeira, a instalação da rede de fast food na ilha faria parte de uma guinada estratégica do regime, iniciada em 2011 (espécie de NEP cubana), no VI Congresso do PCC, com ligeiras concessões ao capitalismo – o passo para trás - para revigorar e reafirmar o socialismo – os dois passos à frente. (Será que é este o sentido de break usado por Álex Castro?)


Vai um BigLênin com molho caribenho?