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sábado, 5 de dezembro de 2015

O DEMÔNIO NA AMÉRICA COLONIAL: A DEMONIZAÇÃO DAS LIDERANÇAS INDÍGENAS NOS DISCURSOS JESUÍTICOS (Província Jesuítica do Paraguai, Século XVII).

o demônio na américa Colonial: a demonização das lideranças indígenas nos discursos jesuíticos (Província Jesuítica do Paraguai, Século XVII).





Con razón es llamado el diablo mono de Jesucristo, Iesu Christi scimus, porque en realidad cuanto Jesuscristo para el divino culto y gloria y para eterna salud de sus amados hombres ha instituido o inspirado en su santo reino, tanto ha tirado a imitar o feamente remedar el diablo para establecer su reino y monarquia en la América, arrojado ya con ignominia de outras partes del mundo.




(Antonio Julián).







Quem tem alguma familiaridade com os textos europeus dos séculos XVI e XVII sobre o Novo Mundo, especialmente os textos religiosos, sabe que existe um laço indissociável entre o demônio e a conquista e colonização da América. Conquistadores e colonizadores viram nos costumes e nas práticas indígenas inconfundíveis manifestações diabólicas. Tropeçavam nos demônios em cada canto do Novo Mundo, mas não se davam conta de que eles mesmos o haviam trazido nas suas caravelas, nas suas crenças, na sua forma de lidar com a alteridade.

Os jesuítas eram a vanguarda ilustrada na arte de demonizar e de farejar demônios. O know hall trazido da Europa lhes habilitava a assumir essa posição e dar combates sem trégua àquilo que o jesuíta Antonio Julián chamou de monarquía del diablo na América. O demônio havia subjugado as populações ameríndias e por meio dos seus lideres espirituais exercia indecente tirania. A libertação dos “pobres” indígenas era a missão dos voluntariosos jesuítas.

O demônio funcionou como um verdadeiro princípio hermenêutico utilizado pelos religiosos para decifrar a natureza dos habitantes das Américas. Não há dúvidas também de que a presença do diabo em terras americanas legitimou amplamente as missões religiosas e as conquistas militares em nome da monarquia católica. Mas o demônio não pode ser reduzido nem a uma chave de leitura das culturas indígenas, nem a um mero instrumento de conveniência política e legitimação da conquista. Embora ele tenha sido utilizado para esses fins, sua presença no Novo Mundo é bem mais complexa. Fernando Cervantes advertiu convincentemente que este tipo de interpretação acaba por menosprezar “la sincera creencia de la mayoría de los contemporâneos en la autenticidad del demonismo.”

Vamos retornar, pelos caminhos das narrativas jesuíticas, ao Paraguai colonial e conhecermos um pouco mais de perto os combates dos soldados de cristo contra o inimigo da cristandade?

Os espetaculares combates apostólicos travados e narrados pelos jesuítas no Paraguai, entre os séculos XVII e XVIII, não foram apenas contra os antigos costumes indígenas e os terríveis feiticeiros (Missionários de diferentes ordens religiosas chamavam os líderes espirituais indígenas de feiticeiros. Utilizo conscientemente a mesma nomenclatura e os mesmos adjetivos empregados pelos missionários para destacar a forma como eles viam e se referiam aos indígenas). Por trás das borracheiras, da poligamia, do canibalismo, de toda sorte de vícios e das medonhas artimanhas dos feiticeiros, que escandalizavam os inacianos, insinuava-se o velho inimigo da cristandade: o demônio. Padres e feiticeiros, nas narrativas jesuíticas, são apenas instrumentos de uma guerra maior travada entre o bem e o mal, que no início da era moderna se deslocara da Europa para as geografias desconhecidas do Novo Mundo. A crença no demônio, e o conjunto de práticas e saberes que gravitavam a sua volta, era um traço fundamental da cultura religiosa europeia nos séculos XVI e XVII. O demonismo não era uma expressão exclusiva das crenças populares ou dos padres inquisidores, estava presente nas manifestações da dita “cultura popular” e na “cultura das elites” (Fernando Cervantes).

No século XVI uma nova ética cristã configurava-se na Europa, alterando a visão até então dominante sobre o demônio. O sistema moral tradicional baseado nos sete pecados capitais fora substituído pelo Decálogo. Decorrência direta desta mudança de atitude foi a concepção de idolatria, que foi alçada ao maior de todos os pecados que um cristão poderia cometer. Isso acarretou uma mudança de percepção da figura do demônio. John Bossy observou que o “Diabo, que era a imagem invertida de Cristo, o princípio personificado do ódio pelo semelhante, tornou-se a imagem do Pai, no centro da idolatria e, a partir daí, no centro da impureza e da rebelião.” O Concílio de Trento foi um marco decisivo nas sistematizações desta nova ética cristã, como no combate às idolatrias e ao demônio. 

O apelo cruzadístico contra as coortes demoníacas exigiu do pensamento erudito europeu a elaboração de um corpo doutrinário e tratadístico que ficou conhecido como demonologia. As origens da demonologia remontam a Santo Agostinho, que deu forma concreta ao demônio imaterial do velho testamento. Ao longo da idade média a demonologia foi se desenvolvendo e sistematizando um conjunto de saberes com a produção de obras importantes como o “Fornicarium”, de Nider, e o “Malues Maleficarum”, de Sprenger e Kramer. No século XVI o conhecimento sobre o diabo alcança o requinte com as obras “Démonomanie”, de Jean Bodin, e “Daemonologie”, de Jaime VI Stuart (Laura de Mello e Souza). Todo esse repertório de crenças e tratados demonológicos atravessou o oceano com os conquistadores, principalmente com as ordens religiosas, e desempenhou um papel central na conquista do Novo Mundo (Fernando Cervantes notou o descompasso desconcertante entre a importância cultural do tema do demonismo como um traço central da cultura europeia da época dos descobrimentos e o descuido dos pesquisadores de hoje em relação ao tema). A Companhia de Jesus, imersa neste contexto, desembarcou na América imbuída desta nova ética. Treinados na arte de rastrear demônios, os padres chegaram munidos de um vasto repertório de reconhecimento do inimigo, composto de ações, descrições e ilustrações, disponíveis em sua cultura. Afinal, eles vinham de um mundo permanentemente em luta contra as forças do mal. As atividades de caça às bruxas e os manuais demonológicos lhes davam um know-how indispensável à árdua missão que na América lhes aguardava. Pertencente à tradição demonológica dominante no seio da qual fora fundada, a Companhia cultivava no seu interior os temas demoníacos (Beatriz Vitar).


A “descoberta” da América, para surpresa dos europeus, revelou que o império do diabo era muito mais vasto do que se imaginava. A conquista dos povos americanos, além de “revigorar os símbolos do maravilhoso, foi capaz de fortalecer a demonologia europeia”. Relacionada à alteridade americana, a demonologia, ou o olhar demonológico, incidiria sobre as práticas culturais indígenas, e mesmo sobre a natureza americana (Laura de Melo de Sousa). O reconhecimento da idolatria como mais grave pecado de um cristão e, sobretudo, o enlace teológico entre a idolatria e o demônio, criou as condições para o desenvolvimento de uma demonologia americana que definiu as manifestações religiosas indígenas, ou as idolatrias indígenas, como de inspiração satânica. A expressão teológica melhor formulada em terras americanas sobre esse tema encontra-se na obra do padre Acosta. No final do século XVI, Acosta (2008) expressou uma curiosa tese: derrotado no Velho Mundo, o diabo “acometio las gentes mas remotas y barbaras procurando conservar entre ellas la falsa y mentida divindad.” Antonio Julián, jesuíta catalão que desenvolveu trabalhos missionários na Colômbia, sistematizou este ponto de vista numa obra intitulada “Monarquía del diablo en la gentilidad del Nuevo Mundo Americano”. Inspirado na “História Natural”, de Acosta, a quem chama de “el buen veijo Acosta”, Julián constatou que:

“Harto peor que la maliciosamente fingida monarquia del Rey Nicolás en Paraguay, fue la del diablo en toda la América. Ya soberbio desde sus princípios Lúcifer contra Dios, ambicioso de su gloria y envidioso de los divinos honores, procuro emposesarse de todo el orbe y esperciendo negras sombras en todas las naciones, ser adorado por dios. Introdujo la detestable idolatria y con innumerables superticiones solicitó para sí los cultos, inciensos y sacrifícios debidos solo a nuestro Dios verdadero. Así reino por tantos siglos en Asia, África y Europa llevando míseramente ciegas y alucinadas las gentes, de suerte que a excepción de la pequeña porción del pueblo escogido de Dios, todas la demás naciones del mundo tributaban adoraciones y culto as demônio (...).”

A tese do padre Julián era de que a conquista da América havia sido um capítulo fundamental na luta de Cristo contra o diabo. Antes da chegada dos espanhóis, o diabo havia instaurado uma terrível tirania entre os povos americanos, como estratégia para conquistar o poder em todo o mundo:

“Vio el diablo que no podría estar su reino con el de Dios, ni subsistir ya su monarquia con la que se levantaba y florecía de jesucristo en estas tres partes eel mundo. Qué hizo? Fue a entablarla y promoverla en país donde estuviera escondido y dominara a su salvo y ejercitara su tirania, sin que ni Papa, ni Obispos, ni sacerdotes de Jesucristo, ni prícipes católicos, ni cristiano alguno lo supiera ni pudiera rastrearlo. Se fue a la América a fundar su imperio, a levantar su monarquia remedando al reino de Jesuscristo (...).”


Na América, o diabo mandou erguer templos, ordenou sacerdotes, consagrou pontífices, instituiu sacramentos, exigiu sacrifícios, preescreveu “ritos y cereminias para misas, matrimônios, entierros, rogativas publicas, penitencias y por fin (...), con sacrílega imitación y ficciones diabólicas entabló su monarquia”.

A propagação e o estabelecimento do reio de Deus na América, prossegue Julián, exigiam a destruição do reino do diabo. Para isso, o “Omnipotente” valeu-se “de la piedad, armas y valor de los españoles”. Graças à conquista e as armas espanholas, que deus empregou para varrer o demônio da terra, os templos do diabo foram destruídos e os índios libertados da diabólica escravidão.


Nas vastas regiões da América, denominadas de Paraguai nas cartas jesuíticas, os padres não se depararam com a idolatria, mas os sinais inconfundíveis da presença do senhor das trevas foram encontrados em abundância. Segundo o padre Ruiz de Montoya, “en todas as partes procura el demonio remedar el culto divino con ficciones y embustes”, e ainda que a “nacion guarani há sido limpia de ídolos y adoraciones”, o demônio encontrou “embustes com qué entronizar á sus ministros, los magos y hechiceros para que Sean peste y ruína de las almas”. Reinava naquelas “selvas incultas” uma vassalagem diabólica. Era na figura dos pajés que o demônio se manifestava de maneira mais evidente entre os guarani. E se no Paraguai não foi necessário uma gigantesca empresa de extirpação das idolatrias, foi preciso energia proporcionalmente semelhante para desmontar a resistência dos pajés à evangelização. Descritas como “ministros do demônio”, estas personagens realizavam a ponte por onde a alma dos índios transmigrava para os domínios do diabo (André Thevet foi direto ao dizer que: “Esse povo assim afastado da verdade …mantém-se ainda tão fora da razão que adora o diabo, por meio de seus ministros, chamados pagés”).

Era por meio de uma crueldade extremada e de poderes sobrenaturais, advindos de sua estreita relação com o demônio, que os feiticeiros controlavam as parcialidades indígenas e estimulavam a revolta contra os missionários. Padre Antonio Sepp exemplificou muito bem a familiaridade com o demônio, ao descrever as artimanhas de um feiticeiro chamado “Moreyra, mestre de arte mágica e cruel discípulo do gênio negro”. O feiticeiro era “laureado doutor na Escola de Lúcifer de infames mentiras, e frustrava toda a obra do nosso padre Antônio Bohm”. Neste combate entre os soldados de Cristo e os feiticeiros locais, foi elaborado um conjunto de representações que visava deslegitimar o poder por eles exercido. Erigidos à qualidade de arquinimigos da cristandade, foram habilmente associados à figura do demônio, que teria tornado os feiticeiros seus vassalos com o propósito de desestabilizar os trabalhos apostólicos. Para Acosta o diabo tinha os seus sacerdotes no Novo Mundo, “mil gêneros de profetas falsos”, através dos quais pretendia “usurpar para si la gloria de Dios y fingir con sus tinieblas la luz”. Assim, a contaminaión satânica y la inmundicia eran monedas corriente en la religión indigena.” O incorrigível “desejo mimético” de satanás era o responsável pelas imitações dos ritos cristãos na América, conduzidas pelos seus discípulos (Cervantes).

Assim que chegaram ao Paraguai, os padres encontraram “aquella gente muy abandonada, y como embrutecida, tan entregados al servicio del demonio, que ya no había nada de bueno en ellos”. Quase diariamente, garante padre Zurbano, “se les presenta el demonio personalmente en figura humana y, viviendo ellos tan embrutecidos fácilmente obedecen a sus terribles insinuaciones y se dejan engañar miserablemente” (Maeder, 1984).


Roque González, que adentrou territorios indígenas nunca antes visitados, travou duras batalhas com o demônio e os seus “ministros”. Desde as primeiras entradas nas terras dos guaikuru teve provas da familiaridade dos indígenas com o maligno. Nas diversas incursões que fez pelo Paraná e Uruguai, onde o império de satanás parecia ser ainda mais forte, padre Roque literalmente tropeçava no demônio. Na carta que envio ao provincial Pedro Oñate, informou que em todos os “pueblos” em que chegava declarava que seu intento era “darles a conocer a su dios, y criador” para que o adorassem e revenciassem. O demônio, porém, “temeroso de salir de su antigua posesion procurava todos los estorvos possibles moviendo los animos de los yndios contra mi (...)”. O inimigo erguia obstáculos e usava os índios para impedir sua entrada nos seus domínios. Por vezes, era na insolência de um cacique que lhe impedia o passo:

“En todos estos pueblos, les iba declarando mi intento, que era darles a conocer a su Dios y Criador, para que le adorasen y reverenciasen: pero el demonio temeroso de salir de su antigua posesión, procuraba todos los estorbos posibles, moviendo los ánimos de los indios contra mí, y en particular me dijo un cacique con mucha arrogancia: Cómo, Padre, te has atrevido a entrar por aquí, adonde no ha puesto sus pies español ? (Blanco, 1929).”

Mas a presença dos padres intimidava os demônios. Se antes eles “apparezian a los yndios”, agora já não se atreviam mais. Roque disse ter ouvido de um índio que “despues q los padres vivieron aqui no se nos ha aparezido mas el demonio (...)” (Documentos para la historia argentina, 1929).

A luta diária e incansável do padre Roque contra o demônio, seus ardis e mil disfarces era, na verdade, um prolongamento de uma batalha mais antiga, travada no velho mundo, e que chegara ao paroxismo no século XVI. Roque González era, porque não, um reforço valioso da Companhia contra as armadilhas e os disfarces locais, indígenas, do demônio no Paraguai. Se os jesuítas adaptavam-se as particularidades de cada cultura para melhor comunicar sua mensagem, o demônio era mestre nesta arte. Padre Montoya conheceu bem os seus disfarces. As reduções eram frequentemente assombradas por demônios travestidos de missionários, de Nossa Senhora, e de muitas outras formas, que vinham para confundir e enganar os índios, atrapalhar a missa ou tentar a pureza dos padres, oferecendo-lhes algumas mulheres, por meio dos caciques. Em Nossa Senhora de Loreto, por exemplo, padre Montoya foi surpreendido por três demônios vestidos em sotainas pretas, transfigurados no padre João Vaseo, morto há cinco anos, que tentavam entrar na igreja. Outro caso curioso foi o de um índio que nunca ia à missa, nem nos dias de trabalho, nem nos dias de festa. Num domingo, estando todos ouvindo sermão e missa, “solo este indio se quedó en su granja”. Começaram então os demônios “á dar balidos como de vaca, bramar como toros, mugir como bueyes e imitar las cabras”. Espantado o pobre índio se recolheu em sua casa, sem atrever-se a sair. À tarde, quando algumas pessoas vieram a sua casa, o índio contou o ocorrido. Andando pelas plantações encontraram várias pegadas de animais e uma pegada que parecia ser a de uma criança recém nascida. Viram também que toda a plantação estava amarelada, como se tivesse sido chamuscada pelo fogo. No domingo seguinte aconteceu a mesma coisa. Montoya aconselhou que fincassem cruzes no lugar e aspergissem tudo com água benta. Mas não adiantou. No domingo os ruídos voltaram. Montoya resolveu ir pessoalmente ao lugar, e próximo de um arroio viu um grande “tropel de gente” atravessando as águas, fugido do demônio que investia contra aquela casa. Foi aí que Montoya foi informado da falta do índio. Revestiu-se então de sobrepeliz, armou-se de água benta e, em nome de Jesus e de Santo Inácio, ordenou que o demônio fosse embora para sempre daquele lugar. “Puse, conta-nos o intrépido missionário, en un vaso cerrado un pedazo de la sotana de San Ignácio, y nunca más volvió em demonio. Yu me llevé aquel indio al pueblo, hizo una buena confesion, y en delante fué muy ejemplar Cristiano”. As aparições demoníacas na “Conquista Espiritual” servem sempre para algum tipo de lição ou de edificação.

Montoya pintou um quadro assombroso das reduções, açoitadas por multidões de demônios multiformes. A única salvação dos índios eram os destemidos missionários, a quem os demônios temiam. “A Conquista Espiritual” narra uma luta diária e incessante contra o diabo e seus “ministros”.

Ao considerar os poderes mágicos dos pajés e as tradições que eles carregavam como embustes e fábulas, os padres esvaziavam a espiritualidade guarani de qualquer substância e a reduziam a um simulacro do cristianismo.  A falsidade da religião decorria de sua fonte de inspiração, o demônio, mestre da mentira e dos embustes. Não que a natureza dos habitantes do Novo Mundo fosse diabólica. Na verdade, os indígenas, distantes geográfica e espiritualmente do mundo cristão, tornavam-se vítimas inocentes, presas fáceis dos demônios migratórios, fato que asseguraria a reversibilidade de suas práticas e justificaria os trabalhos apostólicos. A culpa, como bem observou Estenssoro, foi deslocada do livre-arbítrio dos índios para o demônio, o “único inventor possível” dos ritos e da oposição dos pajés à evangelização. Não existia, portanto, uma resistência dos índios ao cristianismo, mas uma “luta direta entre Deus e o diabo” (Estenssoro).

Estou com isso sugerindo que, sem o demônio, a conquista da América não passaria de uma bem sucedida campanha militar contra povos selvagens e antropófagos. Sem o demônio a colonização não teria o mesmo apelo cruzadístico, e os padres teriam um papel bem menos importante no controle espiritual do Novo Mundo. Por um lado, a presença do diabo e seus poderes malignos faziam parte do esforço hermenêutico jesuítico para entender e ao mesmo tempo negar o universo das crenças e práticas indígenas, por outro, justificava e reforçava perante os seus pares e as autoridades europeias - para quem as narrativas jesuíticas eram endereçadas - a necessidade da presença dos padres na América.




Referências Bibliográficas.


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VITAR, Beatriz. La evangelización del Chaco y el combate jesuítico contra el demônio. Disponível em www.educ.ar/educar/kbee:/educar/content/portal.../0612.pdf.


2 comentários:

  1. A primeira imagem do artigo é o retratado os mártires de Elicura, que padres e índios foram mortos e ao longo do artigo você afirma que errados estao de terem ido à América? Tamanha ingratidão e o ceticismo de não entender que eles buscaram a salvação das almas. Não foi contra o demônio que eles deram a vida, mas a favor de Deus. Pena que a cegueira impede de ver o verdadeiro intuito.

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  2. Olha, Luiza, não sei qual é a tua visão de mundo, o que tu fazes da vida e o teu entendimento sobre este tema, mas se você já chega me chamando de cego, fica difícil estabelecer uma conversa. E eu acho que você não leu o texto corretamente. Eu não escrevi em momento algum que os jesuítas estavam errados de terem vindo para a América. Quem sou eu para dizer isso. Eu escrevo como historiador, não como juiz do passado. Não escrevo para agradecer ninguém (por isso não entendi o que tu queres dizer com gratidão). Eu escrevo para entender minimamente o passado e, quem sabe, contribuir para um entendimento mais amplo de presente. Escrevo sem muitas pretensões, porque minha visão sobre o mundo é limitada, precária e provisória. Mas você, pelo que pude avaliar do teu comentário, parece alguém que tem uma visão iluminada e privilegiada das coisas e um conhecimento da Verdade que te permite falar em salvação das almas. Só alguém com uma visão absoluta sobre todas as coisas pode falar em salvação dos outros, não é mesmo. Enfim, lendo o teu comentário fiquei com a impressão de que estamos falando de textos diferentes. Você leu o meu post apenas para confirmar o que já sabes. Como o post não ofereceu um repouso seguro para as tuas verdades, você me chamou de cego.

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