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sábado, 26 de outubro de 2013

A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA ANUNCIA O CAMINHO PARA A “SUPREMA FELICIDADE”. Ou: Seria a Felicidade o Estágio Superior do Socialismo do Século XXI?



A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA ANUNCIA O CAMINHO PARA A “SUPREMA FELICIDADE”.  Ou: Seria a Felicidade o Estágio Superior do Socialismo do Século XXI?




Enquanto certos intelectuais da esquerda sul-americana (como Gilberto Maringoni) fazem verdadeiros malabarismos teóricos e semânticos para sustentar que o regime venezuelano é democrático, Nicolás Maduro parece esforçar-se para demonstrar o contrário. É constrangedor. É tão constrangedor que Gilberto Maringoni escreveu um texto no Opera Mundi afirmando que a Venezuela é democrática e não citou uma única vez o nome de Maduro. Citou Chávez duas vezes, citou os Estados Unidos, Snowden, mas não citou Maduro (Para afirmar a existência de democracia na Venezuela é preciso, antes, dizer que o sistema político norte americano “é pouco democrático”?). 

Uma ligeira digressão psicanalítica sobre o texto de Maringoni. Não acredito, neste caso, numa casualidade. A ausência do nome do atual presidente é significativa. É o lapso freudiano, conhecido por aqui como “ato falho” (Erros ou esquecimentos triviais na aparência podem comportar significados profundos). Os atos falhos manifestam desejos do inconsciente.  

A coleção de bravatas e gestos populistas baratos que Maduro acumula é formidável. Mas a situação começou a ficar realmente grave quando declarou que às vezes dorme junto ao túmulo de Hugo Chávez, onde consegue "ponderar calmamente" as suas ações. "Por vezes, disse Maduro, vou lá durante a noite e, na maior parte das vezes acabo por dormir lá". A devoção de Maduro por Chávez é conhecida, mas desta vez parece que foi longe demais. Claro. O homem não é bobo. Sabe que Chávez, mesmo morto, é o fiador do seu governo. As visitas ao túmulo do comandante, neste sentido, são calculadas e habilmente exploradas na mídia oficial.


De qualquer maneira, a declaração, embora excessivamente apelativa, não surpreende. Na campanha eleitoral Maduro afirmou que o presidente Chávez, recém falecido, apareceu na forma de um pássaro e voou à sua volta. Tínhamos ali um forte indício do caminho que o homem trilharia. Será que alguma cartilha bolivariana seria capaz de explicar, à luz do socialismo do século XXI, esta extraordinária aparição? 

O que esperar depois disso? Não duvidem do estafeta do chavismo, ele se supera a cada gesto. A Venezuela, claro, vai a reboque. A cada declaração, o país parece distanciar-se cada vez mais de qualquer definição de democracia. Menos para Gilberto Maringoni, para quem a combinação de progresso social com efervescência participativa é que solidifica a democracia venezuelana”. Maringoni só esqueceu o nome do atual presidente. 

Na quinta feira, em meio à grave crise econômica e de abastecimento, Maduro anunciou a criação de um vice-ministério para supervisionar os programas sociais do governo nas áreas da saúde, do esporte, da ajuda financeira aos mais pobres e de moradias populares. Os projetos do governo nestas áreas não são previstos na proposta de orçamento e estão fora do controle e da fiscalização do legislativo. O vice-ministério foi batizado de “Ministério da Suprema Felicidade Social”. O objetivo, segundo Maduro, é que as pessoas sejam "atendidas da forma mais sublime, sensível, delicada e amável por pessoas que se dizem cristãs, revolucionárias e chavistas". E num adendo místico complementou dizendo que é preciso chegar ao céu, onde está o ex-presidente Hugo Chávez. Entenderam? O vice-ministério, além de promover a felicidade na terra, seria uma espécie de condutor espiritual do povo ao paraíso, ao céu, onde o comandante descansa e zela pela revolução.

O novo ministério lembra os quatro ministérios da Oceania (de Orwell): Ministério da Verdade, da Paz, do Amor e Fartura. A diferença é que Maduro leva a sua criação a sério. 

O “Ministério da Suprema Felicidade” é de dar inveja em muitos ditadores. Kim Jong-il deve estar se perguntando: “Como é que eu não pensei nisso antes?” Pois é Kim, na Venezuela agora a felicidade é uma questão de estado. O estado é o demiurgo do milagre social da felicidade. E não é qualquer felicidade: é a “felicidade suprema”. Deve ser o estágio superior do socialismo do século XXI.

No mesmo ato de lançamento do vice-ministério, Maduro instituiu também o “Dia de Lealdade ao Legado de Chávez e do Amor à Pátria”. O dia escolhido para homenagear o comandante foi 8 de dezembro. “El 8 de diciembre, disse Maduro, será a partir de este momento el día de la lealtad y amor a Hugo Chávez, porque ese día vino a despedirse de su pueblo, aún con su dolencia vino con mucha serenidad y fuerza a despedirse de su patria". 8 de dezembro foi o dia da última aparição pública de Chávez. Na ocasião, designou Maduro como o seu sucessor. Mas é também, coincidentemente, o dia das eleições municipais, na Venezuela. A partir do próximo dia 8 de dezembro as eleições e a lealdade à Chávez serão inseparáveis. 8 de dezembro será um dia de “lealdade mobilizadora, quando o amor se expressará” na ação do povo que jamais faltará a Chávez, disse Maduro. Será que é esta forma de mobilização e lealdade que Maringoni chama de “efervescência participativa”? É possível considerar este tipo de mobilização mística da população, como vem ocorrendo desde os tempos de Chávez, como democrática?  


O 8 de dezembro se juntará às outras datas comemorativas do calendário bolivariano, como 28 de julho (aniversário de Chávez), 8 de agosto (data de sua entrada à Academia Militar) e 4 de fevereiro (dia do golpe contra Carlos Andrés Perez). A figura de Chávez se impõe de diferentes maneiras na cultura política venezuelana. A ocupação do calendário comemorativo é uma forma de manter viva a memória do comandante, do seu suposto legado e usá-lo como elemento de coesão e mobilização social para exorcizar os problemas e intimidar os inimigos.

O vice–ministério - a piada política pronta de Maduro - já caiu no gosto popular. O humor das ruas se encarregou de colocar a “coisa” no seu devido lugar. Victor Rey, vendedor ambulante de bananas, exprimiu, do seu modo, o lado folclórico da situação: 

"Só espero que um dia Maduro lance o vice-ministério da Cerveja para que eu e todos os bêbados fiquemos felizes".


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