A UNIÃO DO
SOCIALISMO COM O SETOR FINANCEIRO NA CHAPA MESSIÂNICA DE MARINA SILVA.
Não
deveríamos nos surpreender com arranjos e alianças políticas insólitas no
Brasil. Depois que o Amin se aliou ao Lula em Santa Catarina, o PT se juntou a Maluf
em São Paulo e os Bornhausen, pai e filho, se filiaram ao Partido
Socialista Brasileiro, o que mais poderia nos causar espanto? A fusão do
socialismo com o setor bancário para eleger uma candidata eco-evangélica? Pois
então!
Não
deveríamos nos surpreender, mas como não estranhar a composição política
inaudita e os enormes contrastes entre as figuras que comandam a candidatura de
Marina Silva?
Duas
mulheres divergentes estão por trás da singular candidatura. De um lado, Luiza
Erundina, o lado socialista do PSB, comandando a campanha de Marina desde
quinta feira (21), de outro, a bilionária Maria Alice Setubal, sócia herdeira
do Itaú. Que carisma é este o da Marina, capaz de promover a união da
socialista com a bilionária? Erundina, em entrevista em 2013, disse que Marina
deseduca politicamente a sociedade. Na entrevista, afirmou que o boato de que
ela migraria para a Rede era falso, pois sua opção era pelo socialismo e a Rede
apontava para outra direção. Agora Erundina é a coordenadora da campanha. Maria
Alice é a fada madrinha, que capta recursos para a Rede Sustentabilidade e, das
entranhas do setor financeiro, fala, por Marina, na autonomia do Banco Central.
Como equacionar, num eventual governo, incompatibilidades tão acentuadas? Isso
sem falar na difícil conciliação da vertente socialista do PSB com a visão liberal
de Eduardo Giannetti e o ideal político dos “sonháticos” da Rede. Marina, que
nega a política e os partidos (não lembra Collor e Jânio?), fundou a Rede. Mas
parece que na rede de Marina, caiu, é peixe. Banqueiras, socialistas,
evangélicos, ecologistas e peixes de outras águas (águas oligárquicas
catarinenses) se acotovelam na Rede de Marina. Antes de se constituir como
alternativa aos partidos e à política (o senso comum de Marina Silva), o
significado mais profundo da Rede é exatamente este. Tubarões do sistema
financeiro, peixes graúdos da velha política, peixes pequenos desgarrados dos
cardumes históricos da esquerda, oportunistas em geral, a Rede abriga a todos.
Marilena
Chauí fez malabarismos teóricos para justificar a aproximação do PT com Maluf em
São Paulo para a eleição de Haddad (Erundina recusou ser vice de Haddad por não
aceitar a aliança com Maluf). Marina Silva tem na sua base de apoio alguém com
a estatura teórica de Chauí para encontrar uma boa explicação para reunir o
socialismo convicto de Erundina com a veia financeira de Maria Alice em defesa
de sua candidatura? Talvez a carismática Marina, do alto do seu senso comum, diga
que o casamento “providencial” entre o socialismo e o setor bancário signifique
que todos, em comunhão, devem estar juntos pelo Brasil.
Os
correligionários da Rede chamam Marina de “a missionária”. Será que a missão da
presidenciável é justamente harmonizar misticamente os ideais do socialismo com
a economia de mercado, costurada pela sustentabilidade, como via para a utopia
pós-partidária?
E
quem não acredita na “providência divina”? A realpolitik mais cedo ou mais
tarde vai cobrar a conta.
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