MACDONALDS E COCA
COLA EM CUBA: Socialismo Fast Food à
vista?
A
Cuba pós-embargos, embora seja ainda cedo para dizer qualquer coisa, já dá
sinais do que pode vir pela frente. Poderemos ter uma combinação de socialismo
castrista, (sustentado pela velha retórica revolucionária, pelo mito das
conquistas sociais e comandado pelo estado patrão e provedor), com capitalismo fast food, impulsionado e revigorado pelo
capital de multinacionais e pelos valores do consumo globalizado. Frei Betto, em conversa recente com Fidel,
tentou resumir o encontro do socialismo cubano com a sociedade do consumo que
aos poucos chega a Cuba, por conta da retomada das relações diplomáticas com os
Estados Unidos, usando a seguinte metáfora: “um encontro de um caminhão consumista com um Lada [marca
russa do carro mais usado em Cuba] da austeridade”. É uma boa metáfora, admitamos,
mas eu faria uma pequena correção: o Lada não representa a “austeridade”, mas o
atraso, a carência, o peso severo do passado e o colapso do socialismo
castrista. O Lada é uma boa metáfora de um país que parou no tempo, que
petrificou o “sonho” e o transformou em capricho de tiranos carismáticos,
submeteu sua população ao isolamento e a carência e virou refúgio afetivo dos
órfãos globais do socialismo.
Na
mesma semana em que Fidel Castro, em mensagem à Federação dos Estudantes
Universitários de Cuba (segunda, 26 de janeiro), em meio à retomada do diálogo
com Washington, reafirmou os já carcomidos princípios da revolução e declarou
que não confia nos Estados Unidos, seu filho, Álex Castro, disse numa
entrevista à “América TéVé" que a
Coca Cola e o Mcdonalds são bem vindos em Cuba e que "podem montar uma fábrica da
Coca-Cola aqui, por que não? Isso não nos afeta". "Somos vizinhos”,
arrematou. “Podem produzir Coca-Cola aqui, podem trazer o McDonald's. Estamos
fazendo um break do socialismo, mas
não vamos renunciar a ele".
Um
“break no socialismo”? O que isto
quer dizer? Que o socialismo foi temporariamente suspenso? Que o regime cedeu,
parou, está sendo revisto e abriu as portas para se renovar (com oxigênio
capitalista do vizinho rico)? Seja lá o que Álex esteja querendo dizer com “um break no socialismo”, o caminho para a
instalação de empresas estrangeiras e de uma cultura do consumo, antes
abominada pela ditadura e seus sabujos, está aberto. O Castro filho deu sinal
verde. O Castro pai, embora não confie no vizinho, parece que não tem opção
melhor.
Será
que em breve teremos nas ruas de Havana, ao lado dos outdoors da revolução e da
onipresente e opressiva imagem do Che, outdoors da Coca e do Mcdonalds, dois
dos mais poderosos e significativos símbolos do capitalismo globalizado? Teríamos
uma composição de paisagem realmente curiosa, harmonizando a publicidade agressiva
da sociedade do consumo com a propaganda totalitária da revolução, num cenário
das décadas de 1960/70. Imaginem outdoors da Coca espalhados pela ilha,
contrastando com os slogans surrados da revolução, e o M
gigante
da Mcdonalds ao lado da imagem do Che na Praça da Revolução! Parece coisa de
ficção, não é? Mas depois que Fidel virou garoto propaganda da Adidas, nada que
vem de Cuba, da Cuba dos Castro, surpreende. E se considerarmos que as imagens
do Che, estampadas em camisetas, bonés, xicaras e chaveiros, tornaram-se nas
três últimas décadas ícones do consumo mundial (a revolução virou mercadoria),
o contraste não seria tão violento assim. Bobear o Mcdonalds, adaptando-se ao
gosto local e as peculiaridades do regime cubano, inventa um McGuevara ou um BigCastro!
Suspeito que os cubanos, exceto a oficialidade e os bajuladores, não aprovariam
os lanches/homenagens. Embora apresentados como novidade, já viriam com cheiro
de mofo e gosto de coisa velha.
E
a turma da esquerda autoritária que reverencia o regime castrista e detesta o
Macdonalds? Será que vai usar a máxima do Lênin (“dar um passo atrás para dar dois
à frente”) para justificar a Mcpresença na ilha? Neste caso, se embarcarem na
minha brincadeira, a instalação da rede de fast
food na ilha faria parte de uma guinada estratégica do regime, iniciada em
2011 (espécie de NEP cubana), no VI Congresso do PCC, com ligeiras concessões
ao capitalismo – o passo para trás - para revigorar e reafirmar o socialismo –
os dois passos à frente. (Será que é este o sentido de break usado por Álex Castro?)
Vai
um BigLênin com molho caribenho?
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