O DIVINO GUARDIÃO DA FONTE DE ÁGUA DOCE.
São
oito horas da noite e lá está ele, impassível e elegante, vigiando o bebedouro
com água doce. Apelidei o bichinho de “tesoura”. É um beija-flor com rabo de
tesoura (conhecido popularmente como beija-flor tesoura ou tesourão). De longe
parece ser todo preto, mas de perto, se conseguirmos encurtar a distância, podemos
observar tons de verde escuro e branco.
Os
beija-flores são territorialistas e defendem energicamente as reservas de
néctar na natureza, ou os bebedouros de água com açúcar que usamos para
atraí-los. O “tesoura” é um dos mais brigões da espécie. Esse que pousou para
foto, se alojou na minha árvore (ou na árvore dele) e não permite que outros
beija-flores e pássaros menores que ele se aproximem do bebedouro. As disputas
são ferozes. Os outros beija-flores, menores e de cores variadas, frequentam a
disputada fonte nos horários em que o “tesoura” não está na área. Instalei dois
bebedouros para ver se as coisas se acalmavam. Que nada. O “tesoura” se posicionou
no ponto equidistante entre os dois. Bebe nos dois e bota o resto da turma pra
correr. Às vezes, mesmo com chuva, ele fica de vigia, naquela mesma ponta de
galho. Quando percebe a presença dos “invasores”, emite um som inconfundível,
se arma para a briga e parte decidido para cima dos “penetras bons de bico”.
Depois volta majestoso para o galho. Não sem antes voar ao redor da fonte e
conferir se está tudo em ordem. A cena se repete várias vezes durante o dia.
“Tesoura” é incansável na defesa do seu território!
Os
bebedouros também são frequentados pelas cambacicas (popularmente conhecidos
como “sebinhos”), pássaros pequeninos, espertos e destemidos, com tons
predominantes de amarelo, combinados com o marrom e o branco, que aparecem em
turmas de quatro ou cinco para bebericar o drink
adocicado. Diferentemente dos beija-flores, que aparecem em certas horas do
dia, os “sebinhos” já estão esperando, de manhã cedo, quando subo na escada
para trocar a água e colocar o bebedouro na árvore, e só vão embora à noitinha.
Adoram a água doce (o néctar) e se
banham com ela, jogando-a em todas as direções. Quando eles estão no bebedouro,
melhor não ficar embaixo. Quando estão em turma, “tesoura” fica irritado, abre
as penas da cauda na forma de um leque, troca de galho para manifestar o
descontentamento, emite aquele som inconfundível, mas não toma nenhuma atitude.
Mas quando algum “sebinho” atrevido chega sozinho, a ferinha avança e espanta o
intruso. Às vezes, mesmo sozinho, o bichinho não se intimida com os voos ameaçadores
do beija-flor. Finge que não é com ele e fica ali, se deliciando no bebedouro.
Quando
a noite cai, e eu deixo de propósito o bebedouro na árvore, é a vez dos
morcegos. Eles saem de não sei onde, em bandos, e bebem a água toda em menos de
uma hora. São sete ou oito morcegos, uma verdadeira colônia, que só param de
beber quando o bebedouro seca. Eles não se intimidam com a nossa presença. Dão
voos rasantes, intimidadores, entram na edícula, e se lançam sobre a fonte de
água. Acho que o “tesoura” não sabe dos invasores noturnos.
O nome científico da ferinha, fixado em 1778, é Eupetomena
macroura (Do grego, Eu = divindade e Petomena = sempre
sustentado pelas asas. E makros = longo; ouros = rabo). Os nomes
científicos são engraçados. São pomposos e parecem não corresponder ao ser que
pretendem definir. No caso do beija-flor tesoura, o nome parece muito
apropriado. É uma pequena divindade alada, veloz e colorida, com cauda longa e
furcada, que guarda zelosamente a valiosa fonte de água doce.
Verdade, estou vendo ele brigar com os outros rss
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