A TEOLOGIA DA VITIMIZAÇÃO.
Os dois fragmentos abaixo foram
escritos por Leonardo Boff num texto publicado no Portal Carta Maior sob o título:
"A espetacularização e ideologização do judiciário". É o que eu chamo de teoria
da vitimização da pobreza e da heroificação dos autodenominados líderes
populares.
Vejamos:
“Ouvem-se no plenário ecos vindos
da Casa Grande, que gostaria de manter a Senzala sempre submissa e silenciosa.”
“Tem-se verdadeiro pavor de um
pobre que pensa e que fala. Pois, Lula e outros líderes populares ou
convertidos à causa popular como João Pedro Stedile, começaram a falar e a
implementar políticas sociais que permitiram uma Argentina inteira ser inserida
na sociedade dos cidadãos.”
De acordo com a grosseira
simplificação dualista de Boff, as perversas “classes dominantes” tramam, na
calada da noite (leia-se neste caso STF) mil e uma maneiras de manter o coitado
do “povo” na ignorância e na miséria, para serem comandados como seres
rastejantes e submissos. Mas eis que de repente, como que vindo dos céus, seres
iluminados rasgam a noite e se colocam a serviço da libertação deste “povo”,
para iluminar as trevas e o retirar da miséria desumana a que foi há séculos
submetido. A “classe dominante”, “que tem verdadeiro pavor de pobre”, acionou
os seus “sicofantes” para colocar o “povo” no seu devido lugar e perseguir
impiedosamente aqueles que ousaram defender esse pobre ”povo”. O enredo é
conhecido, e lamentável. Decerto Boff nos tira para crianças, que devem ser
educadas por contos de esquerda moralizantes e pedagógicos como este. A
simplificação é brutal e o emburrecimento decorrente pode ser irreversível. Estes
contos doutrinadores formam milícias fundamentalistas que saem por aí – pelo
universo virtual - espalhando a ladainha como se fosse revelação divina.
Boff apela para uma dramatização
perversa da história atribuindo-lhe uma continuidade espantosa. A tal “classe
dominante” teria sobrevivido até os dias hoje, com novos disfarces, assim como
a massa de escravos, e as relações sociais escravistas teriam se perpetuado,
embora com outras máscaras. Boff usa – e usa mal – a história para colocá-la a
serviço de um partido e de alguns homens acusados de montar um esquema
gigantesco de compra de votos. A história já foi usada para tanta coisa (para
justificar um projeto nacional, para construir a identidade nacional, para
derrubar uma ditadura), mas o uso que Boff faz é empobrecedor (estou quase
tentado a dizer pilantra). Atropela-se a historicidade das coisas e dificulta-se
o entendimento do que significa pensar historicamente. Boff não esta sozinho
nesta tentativa de domesticar a história para colocá-la a serviço dos
interesses DO PARTIDO e das ditas causas populares. Frei Beto, Emir Sader,
entre outros, lhe fazem companhia. A história, nas mãos destes senhores, vira
uma teologia a serviço de uma ideia metafísica de “povo” e de um conceito
moralmente enviesado de justiça social. O “povo” abstrato, idealizado e
vitimizado que emerge dos textos destes intelectuais é o rebanho necessário e
silencioso que os pastores profissionais precisam para manter vivas suas causas
redentoras.
Esquece Boff que Joaquim Barbosa
por certo não veio da casa-grande. Ou será que Boff esta sugerindo que Barbosa
esta traindo os seus companheiros de senzala (o dito “povo”) e se colocando ao
lado dos senhores para ser depois recompensando com migalhas senhoriais? Justamente
o magistrado que absolveu Dirceu e Genuíno, Ricardo Lewandowski, é um bacharel
uspiano, oriundo de certa elite paulistana que o PT tanto despreza. Francamente!
Este texto de Boff é desrespeitoso, rasteiro, equivocado e absurdamente
maniqueísta.
A história escrita do ponto de
vista dos vencedores já foi devidamente criticada e desmontada. Esta na hora de
prestarmos mais atenção nos abusos cometidos em nome de uma história escrita em
nome dos vencidos, dos “oprimidos”.
Paulo.
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