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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A TEOLOGIA DA VITIMIZAÇÃO.



A TEOLOGIA DA VITIMIZAÇÃO.

Os dois fragmentos abaixo foram escritos por Leonardo Boff num texto publicado no Portal Carta Maior sob o título: "A espetacularização e ideologização do judiciário". É o que eu chamo de teoria da vitimização da pobreza e da heroificação dos autodenominados líderes populares. 

Vejamos:
“Ouvem-se no plenário ecos vindos da Casa Grande, que gostaria de manter a Senzala sempre submissa e silenciosa.”
“Tem-se verdadeiro pavor de um pobre que pensa e que fala. Pois, Lula e outros líderes populares ou convertidos à causa popular como João Pedro Stedile, começaram a falar e a implementar políticas sociais que permitiram uma Argentina inteira ser inserida na sociedade dos cidadãos.”

De acordo com a grosseira simplificação dualista de Boff, as perversas “classes dominantes” tramam, na calada da noite (leia-se neste caso STF) mil e uma maneiras de manter o coitado do “povo” na ignorância e na miséria, para serem comandados como seres rastejantes e submissos. Mas eis que de repente, como que vindo dos céus, seres iluminados rasgam a noite e se colocam a serviço da libertação deste “povo”, para iluminar as trevas e o retirar da miséria desumana a que foi há séculos submetido. A “classe dominante”, “que tem verdadeiro pavor de pobre”, acionou os seus “sicofantes” para colocar o “povo” no seu devido lugar e perseguir impiedosamente aqueles que ousaram defender esse pobre ”povo”. O enredo é conhecido, e lamentável. Decerto Boff nos tira para crianças, que devem ser educadas por contos de esquerda moralizantes e pedagógicos como este. A simplificação é brutal e o emburrecimento decorrente pode ser irreversível. Estes contos doutrinadores formam milícias fundamentalistas que saem por aí – pelo universo virtual - espalhando a ladainha como se fosse revelação divina.

Boff apela para uma dramatização perversa da história atribuindo-lhe uma continuidade espantosa. A tal “classe dominante” teria sobrevivido até os dias hoje, com novos disfarces, assim como a massa de escravos, e as relações sociais escravistas teriam se perpetuado, embora com outras máscaras. Boff usa – e usa mal – a história para colocá-la a serviço de um partido e de alguns homens acusados de montar um esquema gigantesco de compra de votos. A história já foi usada para tanta coisa (para justificar um projeto nacional, para construir a identidade nacional, para derrubar uma ditadura), mas o uso que Boff faz é empobrecedor (estou quase tentado a dizer pilantra). Atropela-se a historicidade das coisas e dificulta-se o entendimento do que significa pensar historicamente. Boff não esta sozinho nesta tentativa de domesticar a história para colocá-la a serviço dos interesses DO PARTIDO e das ditas causas populares. Frei Beto, Emir Sader, entre outros, lhe fazem companhia. A história, nas mãos destes senhores, vira uma teologia a serviço de uma ideia metafísica de “povo” e de um conceito moralmente enviesado de justiça social. O “povo” abstrato, idealizado e vitimizado que emerge dos textos destes intelectuais é o rebanho necessário e silencioso que os pastores profissionais precisam para manter vivas suas causas redentoras.

Esquece Boff que Joaquim Barbosa por certo não veio da casa-grande. Ou será que Boff esta sugerindo que Barbosa esta traindo os seus companheiros de senzala (o dito “povo”) e se colocando ao lado dos senhores para ser depois recompensando com migalhas senhoriais? Justamente o magistrado que absolveu Dirceu e Genuíno, Ricardo Lewandowski, é um bacharel uspiano, oriundo de certa elite paulistana que o PT tanto despreza. Francamente! Este texto de Boff é desrespeitoso, rasteiro, equivocado e absurdamente maniqueísta.

A história escrita do ponto de vista dos vencedores já foi devidamente criticada e desmontada. Esta na hora de prestarmos mais atenção nos abusos cometidos em nome de uma história escrita em nome dos vencidos, dos “oprimidos”. 

Paulo.

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