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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O PROJETO DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR SOB FOGO SERRADO.



O PROJETO DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR SOB FOGO SERRADO.

Por Clio, quem provavelmente nunca antes se interessou pelo campo da história, a não ser como leitor eventual, se eleva agora à condição de arqui-inimigo da regulamentação da profissão. Trincheiras inexpugnáveis se erguem do nada contra o que acreditam ser uma absurda reserva de mercado para os historiadores diplomados. Sou historiador diplomado, defendo a regulamentação, mas não quero carregar o peso de ser o portador DO discurso autorizado sobre o passado. Não é isso que esta em jogo. Desejo a regulamentação, mas não defendo monopólios. Historiadores não diplomados, infinitamente melhores do que eu, fizeram tanto pela disciplina que não ousaria propor uma ditadura do diploma. Não é isso que defendo com a regulamentação. Regulamentar significa valorizar e reconhecer a profissão. Significa que o historiador passa a ter um reconhecimento social e que se passa a exigir uma formação específica na área para atuar em determinadas atividades (alguma coisa de mal nisso?). Até onde entendo, isso não entra em contradição com a face interdisciplinar que caracteriza o campo da história. Não impede que um professor com sólida formação musical, e conhecedor de história da música, possa lecionar a disciplina de História da Música num curso de história. Porém, precisamos reconhecer que o projeto apresentado por Paulo Paim não deixa isso claro. O texto do projeto, particularmente no Art. 5, parece sugerir um fechamento da disciplina para os não diplomados. 


No blog “O Palco e o Mundo”, o escritor Pádua Fernandes publicou no dia 20 de novembro um post contundente, intitulado “Memória como reserva de Mercado V: astros e historiadores”, contra o Projeto de Regulamentação da Profissão de Historiador apresentado por Paulo Paim (confira). O texto de Pádua é bem mais organizado e consistente que o texto escrito por Fernando Rodrigues para a Folha de São Paulo há alguns dias. Pádua parece estar mais bem informado, articula alguns pontos da critica que vem sendo feita ao projeto e lhe empresta argumentos mais sólidos. Ao contrário de Fernando Rodrigues, Pádua leu atentamente o documento, fez relações entre os artigos do projeto e cotejou com o estatuto da ANPUH (e julgou encontrar contradições). Foi mais longe. Desmontou a tímida resposta que a ANPUH contrapôs à matéria publicada na Folha, questionando o “discurso da autoridade” evocado logo no começo do texto. Sei das boas intenções e reconheço o gesto nobre da presidência da ANPUH. Mas não surtiu o efeito desejado. Todavia, foi uma resposta polida e respeitosa.

O texto de Pádua – e o que ele representa - merece resposta mais atenta. Não basta desqualificar corporativamente o autor acusando-o de ignorância na área, de estar a serviço de algum grupo de interesse ou simplesmente atacando-o com frases agressivas que visam abafar o debate. O texto merece resposta qualificada, argumentativa, serena e, sobretudo, esclarecedora. A resposta da ANPHU foi para consumo interno, para dar uma satisfação aos historiadores, não ao público. O argumento do “discurso da prova” sem um devido esclarecimento aos não-historiadores cai no vazio e na irrelevância. Não é para mim nem para os meus colegas que a ANPUH deve responder, mas para o Pádua, para os seus leitores, para os leitores brasileiros que não possuem diploma em história nem tem obrigação de saber sobre o “discurso da prova” (tema para especialistas em historiografia).

Esperamos muito tempo por este momento. Precisamos nos colocar com mais clareza e desmontar a tese do monopólio sobre a memória e o passado que corre solta entre os críticos do projeto de Paim (entre eles alguns historiadores). O projeto dá, sim, margem para se pensar coisas desse tipo. Basta ler com atenção. É o momento de rever, propor e desfazer mal entendidos. Afinal, nós não pretendemos silenciar o debate nem nos tornamos proprietários de tudo aquilo que carrega a palavra “história”, não é mesmo? São os “combates pela história” (para lembrar o mestre) no tempo presente. 

Amo a história. Se não a amasse não seria historiador. (...). Amo a história – e é por isso que estou feliz por vos falar, hoje, daquilo que amo.” Lucien Febvre, "Combates pela História".

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