O
ÓDIO DE CLASSE: A CLASSE MÉDIA SEGUNDO MARILENA CHAUÍ.
Num
discurso proferido no lançamento do livro “10 anos de
governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”, organizado por Emir Sader,
Marilena Chauí arrancou aplausos da plateia ao expressar o “ódio” que sente
pela classe média brasileira. Advirto que o que vocês vão ler possui conteúdo
simbolicamente violento. É impróprio para não iniciados.
“É porque eu odeio a
classe média. A classe média é um atraso de vida. A classe média é a estupidez.
É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante,
terrorista. É uma coisa fora do comum a classe média (…) A classe média é a uma
abominação política porque ela é fascista. Ela é uma abominação ética porque
ela é violenta. E ela é uma abominação cognitiva porque ela é ignorante”.
Prestem
atenção nos adjetivos: abominável, fascista, terrorista, ignorante petulante,
arrogante, reacionária, atrasada. Vindo de uma filósofa, de quem se espera um
cuidado com o uso das palavras, não perece ter sido um descuido. As palavras
foram escolhidas a dedo. É realmente um caso de violência simbólica explicita.
De
quem ou do que exatamente Marilena esta falando? Se for do SEGMENTO
ultraconservador da classe média, responsável pelos movimentos “2.000.000 -
Dois Milhões e Brasileiros Unidos pelo Brasil”, “Endireita Brasil”, e outros do
mesmo naipe, diria que, deixando o “ódio” e o “abominável” de lado, concordo
com ela. Cito um dos posts recentes no facebook de um destes movimentos da ultradiretita:
(O post faz referência a
um vídeo gravado em 2009 na Amazônia em que Dilma destaca a importância da
“revolução cubana” no contexto americano, durante as celebrações dos 50 anos da
revolução. Na abertura do vídeo o lema deles – “FORA PT” – e uma música de
suspense que cria a expectativa de algo abominável que vai ser dito. E o que
Dilma diz? O que todo mundo já sabe sobre a revolução. É frustrante até mesmo para
os seguidores do movimento. Dilma foi muito econômica com as palavras e com os
elogios).
Leiam o post:
“Dilma declarando seu amor
pela revolução cubana em 1959, seu amor pelo comunismo de Cuba”:
“Ela foi membro ativo das organizações terroristas comunistas que pegaram em armas para combater o regime militar, e impor uma ditadura comunista no Brasil, esses grupos terroristas assassinaram 119 brasileiros pela causa da ditadura comunista, além de sequestrar autoridades, sequestrar aviões, assaltar bancos e lojas comerciais e até roubaram o cofre de Adhemar de Barros, então governador de SP onde haviam milhões de dólares... tudo pela causa da ditadura comunista. Os militares à pedido do povo na Marcha da Família com Deus pela Liberdade em 19/03/1964, deram contra golpe na implantação da ditadura comunista no Brasil que estava sendo concretizado com João Goulart, vice presidente que assumiu com a renúncia do então presidente Jânio Quadros.” (“2.000.000 Milhões e Brasileiros Unidos pelo Brasil”).
Leram? É isso mesmo. Eles pretendem ser hoje o que a
TFP foi na década de 1960. Dilma é o Jango deles. Além de atentarem contra a
língua portuguesa, atentam contra a democracia. O movimento, criado aparentemente para protestar
contra a corrupção no Brasil, é, na verdade, um movimento contra o PT e contra
o que chamam de “golpe comunista”, que estaria em curso no Brasil. Num outro
post, que não vou reproduzir, um sujeito afirma que os médicos cubanos que
viriam para o Brasil são na verdade guerrilheiros disfarçados. O movimento é
patético e pratica um tipo previsível e rasteiro de terrorismo psicológico. Mas
o que me interesse neste momento não é o movimento. O “ódio” de classe da
filósofa de classe média Marilena Chauí chama mais a minha atenção. O movimento
“2.000.000” é bobo e irrelevante, é uma manifestação estúpida de uma pequena parte
da classe média (mas é bom ficarmos atentos). O ódio da filósofa, cultivado,
teoricamente sofisticado e agora publicamente conhecido, deve ser observado com
mais cuidado. Ela elevou o ódio a um
patamar perigoso e explosivo. O ódio é o caminho que leva
à intolerância e ao obscurantismo político, não ao esclarecimento. Bobear daqui
a pouco eles criam o Ministério do Ódio, para canalizar o nobre sentimento e
instrumentalizá-lo politicamente, e para fazer dobradinha com o Ministério da
Verdade (Não sou contra o Ministério nem contra o que ele está fazendo, só não
gosto do nome).
Não
é preciso ser filósofo nem sociólogo para saber que a classe média não é um
bloco homogêneo que pensa, age e se comporta da mesma forma e que se movimenta
na mesma direção. Marilena generaliza, presta um desserviço sociológico e
confunde mais do que esclarece. Sabemos que segmentos da classe média
paulistana, gaúcha, catarinense, etc, votam no PT. Sabemos que Marilena se
refere principalmente à classe média paulistana, que essa briga vem de longe e
blá blá blá. Ainda assim a generalização é grosseira. O que poderíamos denominar
como classe média é uma coisa tão grande, diversa e heterogênea que exige
abordagem mais cautelosa e informada e menos palanqueira.
Parece
mesmo que Chauí abdicou da filosofia e da reflexão para se entregar sem pudores
à militância político-partidária. A filosofia lamenta. A militância partidária
não perde nem ganha. Marilena não está fazendo a diferença.
A oposição fundamental de classes, da filosofia da história
clássica marxista, adquiriu, no Brasil, um arranjo inédito e um novo e inesperado
motor: o ódio. O ódio de classes. Os intelectuais “progressistas” de classe
média, como Marilena, odeiam a classe média não intelectual e conservadora.
A filósofa elitista e autoritária, que entrega generosamente seus
dotes intelectuais à causa popular, não sem antes reabilitar Paulo Maluf, declarou
seu ódio e nomeou o abominável. A plateia aplaudiu, as redes sociais “curtiram”
e o ódio subiu mais um degrau na escalada da intolerância no Brasil. Bravo,
Marilena.
♪♫♩♫ “...mas o ódio cega e você não
percebe....mas o ódio cegaaa” ♪♫♩♫
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