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sexta-feira, 14 de junho de 2013

O CALEIDOSCÓPIO SEMÂNTICO DOS PROTESTOS CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS DE ÔNIBUS.



O CALEIDOSCÓPIO SEMÂNTICO DOS PROTESTOS CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS DE ÔNIBUS.


Vou dar uma de Foucault (do livro Eu, Pierre Rivière), abrir mão da interpretação, e mostrar a explosão discursiva em torno dos acontecimentos. Pensem num caleidoscópio como metáfora das possibilidades prismáticas. Foucault não estava em cima do muro. Estava engajado num grupo de informações sobre as prisões, que propunha dar voz aos presos. Denunciava-se o silenciamento a que os presos eram submetidos. 

Eu ando de ônibus. Pago caro. Espero nas paradas. Nem sempre viajo sentado e acho que os donos das empresas choram de barriga cheia. Mas desta vez vou ceder a palavra e trazer nove pontos de vista sobre os protestos. Meu objetivo? Digamos que eu gosto muito da ideia do livro do Foucault sobre Pierre Rivière...

NOVE OLHARES.

1.MOVIMENTO ESTUDANTIL POPULAR REVOLUCIONÁRIO (Lideranças estudantis).
O Enunciado:
Estudantes e trabalhadores na luta contra o aumento das passagens de Ônibus.

Na página do MEPR lemos um “manifesto” intitulado “Só a Luta Combativa e Radicalizada Irá Barrar o Aumento das passagens”.

Trecho do manifesto:
“Em diversas capitais do Brasil, a rebelião contra o aumento das passagens já está nas ruas. Apesar da repressão brutal por parte da polícia e da campanha de difamação movida pela imprensa reacionária, a juventude e os trabalhadores tem se somado de forma crescente às mobilizações. O aumento do susto de vida, somado /á situação calamitosa dos serviços públicos oferecidos por este estado podre, e ainda o escárnio contra o povo que é a realização desses megaeventos e os diversos crimes cometidos em sua decorrência,l chegaram a uma situação insuportável. No caso das empresas de ônibus, merecem o ódio da população, por anos de serviços maus e caros”.


2.FERNANDO HADDAD (O Prefeito)
O Enunciado:
O aumento das passagens é justo e será mantido, apesar dos protestos.

Fernando Haddad comentou na noite do dia 13 os protestos contra o aumentos das passagens de ônibus. Disse respeitar os manifestantes, mas que não vai mudar o percentual de aumento nas passagens em São Paulo. Leiam trechos da declaração.

O aumento estava previsto e foi abaixo da inflação...

“Havíamos nos comprometido a dar um reajuste muito abaixo da inflação. Se fosse dada a inflação, o valor da tarifa seria muito maior do que foi dado no momento. Então, o valor será mantido porque já está muito abaixo da inflação acumulada”.

Da recusa do diálogo...

“No primeiro dia abrimos as portas, e o diálogo foi recusado por parte dos manifestantes. E, depois, todos conhecem a história”.  “Não vejo coordenação nesse movimento. Eles próprios dizem: eles não se coordenam, não há lideranças, não há responsáveis. Ninguém se apresenta como responsável pelo que está acontecendo”.


3.MARCO ANTONIO VILLA (O historiador)
O Enunciado:
“Fascismo e Oportunismo Político”.

O historiador Marco Antonio Villa escreveu um texto breve  acusando a inconsistência e o oportunismo que cerca o movimento.

Destaco algumas frases:

- não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;
- tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;
- como a eterna crítica ao capitalismo – que vive uma “crise terminal”, falam isso desde o final do século XIX – não se materializa na “revolução”, necessitam construir um móvel de luta para não perder o apoio das “suas bases”;
- a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as lideranças desses grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”, cansadas de ouvir discursos revolucionários, negadores da democracia (chamada depreciativamente de “burguesa”), sem que tivessem o que chamam de prática revolucionária;
- o desemprego e a crise econômica – presentes na Europa – aqui são irrelevantes, portanto a “mobilização” tem de buscar outro móvel de luta;
- O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;
- E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.


4.ÉLIO GASPARI (O Jornalista)
O Enunciado:
A PM iniciou a violência.

“Quem acompanhou a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus ao longo dos dois quilômetros que vão do Teatro Municipal à esquina da Consolação com a rua Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios desta quinta-feira começaram às 19h10m, pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns vinte homens da tropa de choque, com suas fardas cinzentas, que, a olho nu, chegaram com esse propósito”


5.LUISCARLOS AZENHA (O Jornalista II)
Enunciado:
Foi Brutal, mas foi didático para a Classe Média. E o PT em cima do muro.

“A classe média paulistana — inclusive aquela formada por repórteres da Folha e do Estadão — experimentou na própria pele o comportamento autoritário, brutal e descontrolado da Polícia Militar de Geraldo Alckmin, com a conivência do PT, de Fernando Haddad e do ministro da Justiça, que ofereceu o reforço da Força Nacional”.
“Incitado, ironicamente, pela própria mídia fã da ditabranda. A PM paulista demonstrou o zeitgeist de sua existência: bater, em nome da segurança nacional, nos mais frágeis. Suprimir a democracia. Barbarizar jornalistas e manifestantes. Usar as armas de que dispõe graças ao financiamento público para atacar o público que a financia”.
“O mais repugnante é ver gente supostamente ligada ao PT e à esquerda posicionada sobre o muro, aguardando um piscar de olhos das “lideranças” para lamentar ou aplaudir o comportamento dos manifestantes”.
“Como na ditadura militar. Vimos, também, o oportunismo de petistas, tomados por uma amnésia profunda sobre os primórdios do próprio partido, nos anos de chumbo em que a mesma PM atuou para abortar o PT e os movimentos sociais”.


6.REINALDO AZEVEDO (O Cronista)
Enunciado:
A Metafísica Petista e a Revolta dos Remelentos e dos Almofadinhas.

“Mas e os nossos “revolucionários”, saídos dos setores mais abastados da sociedade? O que quer essa gente? O Brasil passa, por acaso, por algum déficit democrático? A resposta até pode ser afirmativa, mas não é isso que está a levar os baderneiros para as ruas. O Brasil passa por alguma crise econômica grave? Há sinais importantes de deterioração da economia, mas também não é isso que mobiliza os incendiários. Tenho uma desconfiança: estamos assistindo ao desdobramento mais perverso deste misto que temos visto de estado-babá com estado prevaricador”.
“Não há mal-estar secreto nenhum  na “civilização brasileira” que explique o vandalismo. Há, isto sim, o casamento de dois atrasos: o estado-dependentismo e a impunidade. Grupos radicais resolveram adotar os métodos do MST, na certeza de que nada vai lhes acontecer. É MSNV: o Movimento dos Sem-Noção e Sem-Vergonha”.

7. ADÃO CLÓVIS MARTINS DOS SANTOS (O Sociólogo).
Enunciado:
Uma Nova Cultura de manifestações.

“Existe um caldo de uma nova cultura e prática de mobilização se formando. É claro que existem partidos, diretórios estudantis e sindicatos que também organizam e convocam, mas quem pauta esses protestos são os diferentes indivíduos, não as instituições”.
“Um dos grandes movimentos de Porto Alegre hoje é a luta pelo espaço público democrático e pelo direito de ir e vir. A palavra de ordem desses grupos é contra a apropriação privada de espaços públicos. Questionam uma cultura que deseja que os jovens sejam segregados e confinados em espaços fechados, sem fazer ruído.
“É uma reação a políticas que restringem o uso .do espaço urbano e a capacidade do cidadão em se locomover por ele”.


8.RENATO ROVAI (O Blogueiro)
Enunciado:
O AI-5 contra as Lutas Sociais.

“Os momentos históricos são diferentes, mas o que está acontecendo em São Paulo precisa ser discutido do tamanho que merece. Manifestantes não podem ser presos sob acusação de formação de quadrilha, crime inafiançável. Se isso vier a prevalecer, estaremos entrando num cenário de ditadura contra a luta social. Será um novo AI-5, o instrumento que faltava para a tão sonhada criminalização dos movimentos sociais que vem sendo arquitetada há tanto tempo pelas forças conservadoras do país. E que ganhou hoje o apoio, em editorial, da Folha e do Estado de S. Paulo.
Na última terça-feira foram 20 presos. Hoje, fala-se em mais de 60. Muitos deles jovens que carregavam apenas vinagre para se defender do já previsto ataque de bombas da Polícia Militar. Entre esses que carregavam vinagre, um fotógrafo da Carta Capital.
O jornalista da Carta Capital já foi solto, mas a grande maioria dos jovens ainda está amargando o gosto da cela. Quem não está sendo acusado de formação de quadrilha, pode obter a liberdade pagando 20 mil reais.
Ou seja, a partir de agora quem for para a rua lutar é bandido de alta periculosidade. E o pior disso tudo é que tem gente que se diz de esquerda que está aplaudindo essa ação nefasta”.


9. BRASIL DE FATO (O Jornal).
O Enunciado:
“Ação comandada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) reprimiu violentamente o quarto protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, metrô e trens”.

“Pessoas desmaiando, gritaria, centenas de homens e mulheres presos e feridos gravemente, inclusive idosos e crianças. Essas foram algumas das marcas deixadas nesta quinta-feira (13) pela Polícia Militar durante o quarto protesto pacífico pela redução das tarifas do transporte público em São Paulo (SP)”.
“Se a ação da Polícia Militar, a mando de Geraldo Alckmin, pretendia abafar de vez o movimento naquele momento, não houve sucesso. Uma parte dos manifestantes atirou pedras em defesa legítima contra os PMs, e outra se dividiu em vários grupos pelo centro da cidade, entoando palavras de ordem e de forma pacífica”.



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