Aquele indefectível cheiro de
coisas velhas, mortas, sujas e azedas no ar. Não, não é o caminhão de lixo
passando, nem os zumbis da Umbrella Corporation anunciando o apocalipse. São as
eleições que se aproximam. O ultraje à República e o escárnio à inteligência
entram em cena, e os “representantes do povo”, como aqueles zumbis esfomeados,
devoram os restos de decência e de dignidade. Náusea. Não sei se vou conseguir,
como da última vez, obstruir as narinas com o polegar e o indicador e escolher
o menos ruim. O ritual cívico é entediante e as expectativas somam zero. O
menos ruim não inspira confiança. Os demais me apavoram. Resident Evil 5
parece-me mais alvissareiro. Milla Jovovich encarnando a criatura Alice, pela
quinta vez, parece mais convincente que as criaturas sorridentes que anunciam o
novo e pedem nosso voto, nossa soberania, para depois sapatear no túmulo da
democracia.
Não sou daqueles que pensam que
todos são iguais. Nada disso. Alguns são bem piores. E não tenho mais estômago
para votar por eliminação. Não encontrei minha soberania no lixo. Não tenho partido, não me sinto preso a
ideologias, não tenho vocação para militante de rebanhos e, ultimamente, sinto-me
cada vez menos confortável na margem esquerda. A margem direita nunca foi uma
opção. Porém, o risco de não optar pelo menos ruim é deixar a cidade nas mãos
das velhas nulidades, metidas agora em roupas novas e abusando de uma retórica
social mal ensaiada. O risco de escolher o menos ruim é se sentir culpado e
cúmplice dos deslizes morais das tuas escolhas, e não poder voltar atrás. Eis o
dilema que me devora. É o meu zumbi interior. A saga de Alice/Milla, agente renegada
da Umbrella, contra os efeitos catastróficos do vírus T, é a hiperbólica
representação cinematográfica da luta contra o mal que ajudamos a criar. Alice
luta contra a Umbrela. Uma luta de gigantes que pode determinar a salvação ou a
extinção da humanidade. Uau!!!. Minha luta é mais modesta, mais particular, só
minha. Nem sei se deveria compartilhar.
É Milla, se ficar os zumbis
comem, se correr arrasta consigo o apocalipse social. A Umbrella não perdoa. A
visão apocalíptica da terra tomada por zumbis famintos devoradores de carne
humana é uma boa imagem para associar à legião de candidatos – zumbis morais -
que se arrastam em busca da refeição predileta: o voto. A iguaria é abundante e
a dor de estômago não ataca quem come. hehe
Afinal, para quem acompanha The Walking Dead, os mortos-vivos são aterrorizantes,
mas o pior inimigo dos seres humanos que sobreviveram à grande catástrofe são eles
próprios. Eles devoram uns aos outros num ritual repleto de boas maneiras,
gentilezas, silêncios, sorrisos, boas intenções e muito egoísmo.
Os zumbis da República estão
rondando minha casa, meu bairro, sujando minha rua e entupindo minha caixa de
correspondência com suas promessas requentadas.
Acho que vou folhar o meu bom e
velho Kropotkin.É um ótimo repelente natural contra a
zumbilândia eleitoral.
“A única igreja que ilumina é a que queima.”
Priotr Kropotkin
Priotr Kropotkin
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