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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O EFEITO MILLA JOVOVITH. Ou: tô de saco cheio dessa p.



O EFEITO MILLA JOVOVITH. Ou: tô de saco cheio dessa p.


Aquele indefectível cheiro de coisas velhas, mortas, sujas e azedas no ar. Não, não é o caminhão de lixo passando, nem os zumbis da Umbrella Corporation anunciando o apocalipse. São as eleições que se aproximam. O ultraje à República e o escárnio à inteligência entram em cena, e os “representantes do povo”, como aqueles zumbis esfomeados, devoram os restos de decência e de dignidade. Náusea. Não sei se vou conseguir, como da última vez, obstruir as narinas com o polegar e o indicador e escolher o menos ruim. O ritual cívico é entediante e as expectativas somam zero. O menos ruim não inspira confiança. Os demais me apavoram. Resident Evil 5 parece-me mais alvissareiro. Milla Jovovich encarnando a criatura Alice, pela quinta vez, parece mais convincente que as criaturas sorridentes que anunciam o novo e pedem nosso voto, nossa soberania, para depois sapatear no túmulo da democracia. 

Não sou daqueles que pensam que todos são iguais. Nada disso. Alguns são bem piores. E não tenho mais estômago para votar por eliminação. Não encontrei minha soberania no lixo.  Não tenho partido, não me sinto preso a ideologias, não tenho vocação para militante de rebanhos e, ultimamente, sinto-me cada vez menos confortável na margem esquerda. A margem direita nunca foi uma opção. Porém, o risco de não optar pelo menos ruim é deixar a cidade nas mãos das velhas nulidades, metidas agora em roupas novas e abusando de uma retórica social mal ensaiada. O risco de escolher o menos ruim é se sentir culpado e cúmplice dos deslizes morais das tuas escolhas, e não poder voltar atrás. Eis o dilema que me devora. É o meu zumbi interior. A saga de Alice/Milla, agente renegada da Umbrella, contra os efeitos catastróficos do vírus T, é a hiperbólica representação cinematográfica da luta contra o mal que ajudamos a criar. Alice luta contra a Umbrela. Uma luta de gigantes que pode determinar a salvação ou a extinção da humanidade. Uau!!!. Minha luta é mais modesta, mais particular, só minha. Nem sei se deveria compartilhar. 

É Milla, se ficar os zumbis comem, se correr arrasta consigo o apocalipse social. A Umbrella não perdoa. A visão apocalíptica da terra tomada por zumbis famintos devoradores de carne humana é uma boa imagem para associar à legião de candidatos – zumbis morais - que se arrastam em busca da refeição predileta: o voto. A iguaria é abundante e a dor de estômago não ataca quem come. hehe  Afinal, para quem acompanha The Walking Dead, os mortos-vivos são aterrorizantes, mas o pior inimigo dos seres humanos que sobreviveram à grande catástrofe são eles próprios. Eles devoram uns aos outros num ritual repleto de boas maneiras, gentilezas, silêncios, sorrisos, boas intenções e muito egoísmo. 

Os zumbis da República estão rondando minha casa, meu bairro, sujando minha rua e entupindo minha caixa de correspondência com suas promessas requentadas. 

Acho que vou folhar o meu bom e velho Kropotkin.É um ótimo repelente natural contra a zumbilândia eleitoral.

“A única igreja que ilumina é a que queima.”
Priotr Kropotkin

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