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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

ESTÔMAGO DE URUBU

ESTÔMAGO DE URUBU




Para quem tem estômago de Urubu, o cardápio político dos últimos dias desfilou iguarias (carcaças requintadas para paladares de esgoto).

Em três tempos.

1. O MACARRÃO dos companheiros.

Ontem de manhã sentei para ler as notícias e me deparei com a seguinte matéria: “Delúbio Soares assume toda a culpa e nega mensalão”. O que pensar? Simples: Delúbio esta fazendo pelo PT (Zé Dirceu, José Genuíno e outros) o que o goleiro Bruno pediu (naquela carta interceptada pelo agente carcerário) que Macarrão fizesse por ele. Ou seja, Delúbio está para Dirceu e Genuíno assim como Macarrão está para Bruno. Não seria prazeroso imaginá-los juntos na mesma penitenciaria? Pensando bem, não seria uma ideia tão boa assim. Poderia potencializar o lado sombrio de cada um. Os “companheiros” (não meus) tentariam aparelhar a penitenciária, criariam um governo paralelo lá de dentro e, com ajuda do goleiro e do seu fiel escudeiro, ocultariam as evidências do crime. Os “companheiros” são amadores neste negócio de ocultação das evidências. O mensalão (ou como queiram chamar o monstrengo) é o cadáver insepulto maios famoso, e teimoso, da história recente da República. O corpo está exposto, mas insiste-se em negá-lo. O outro cadáver, ao que tudo indica, jamais será encontrado. Bruno e Macarrão não brincam de esconder dinheiro na cueca!
- Será que Delúbio esconde uma tatuagem prometendo “amor eterno”?

2. Que saudades de Ruth Cardoso.



No último domingo, Rosane Collor (sim, ela ainda carrega o sobrenome do homem a quem pretende desmascarar) apareceu no fantástico fazendo “revelações inéditas” sobre o ex-marido e ex-presidente, nos tempos da Casa da Dinda. O ponto alto de uma série de afrontas que a agora convertida Rosane fez a inteligência nacional foi se queixar da pensão de 18 mil reais que ganha do ex-marido. Ela ambiciona 40 mil. Disse que esta escrevendo um livro que promete revelações ainda mais bombásticas. E afirmou que Collor (que hoje ataca a imprensa e serra fileira com o PT no Senado Federal) teme a publicação do livro. Ficou no ar a atmosfera de chantagem, da ex-mulher insatisfeita com a pensão e que promete jogar M no ventilador. A cara de pau da ex-primeira dama é de fazer cupim corar! A entrevista com Rosane foi exibida na Globo, a mesma emissora que tirou Collor do anonimato e o transformou num fenômeno político nacional, apresentando-o como o “caçador de marajás”. E a entrevista com Rosane foi conduzida num tom crítico ao passado recente, como se a emissora não tivesse nada a ver com a eleição de Collor. Cinicamente, a Globo lavou as mãos.... e jogou a água na nossa cara. Hoje, Collor ataca em outra frente. De caçador de marajás, e inimigo número um da esquerda, converteu-se ao Lulismo e tornou-se o paladino da moralização da imprensa no Brasil. Está por trás do movimento que pretende regulamentar a mídia e ataca a Revista Veja, que o enaltecia até momentos antes do escândalo que o isolou, com a fúria característica do revanchismo. Criador e criatura travam batalha sórdida sobre o corpo inerte de nossa frágil democracia. 
E esse negócio de conversão está mesmo na moda, repararam? Rosane virou “crente”, Suzane Von Richthofen virou pastora evangélica, Collor converteu-se ao Lulismo. Cada um adere à religião que melhor lhe convier. Mas estes novos crentes são nômades e infiéis. Pulam de igreja, como macacos que pulam de galho em galho (sem, é claro, a elegância dos bichos). Essas “igrejas”, sem teologia e sem filtros, são esconderijos passageiros para parasitas e bandidos em fim de carreira. Collor é um Lulista recém-convertido. Era um zumbi político que vagava pelos corredores do Senado em busca de sua própria alma. Os “companheiros” estenderam a mão e o desalmado viu na estrela que antes repudiava a guia para o seu retorno à vida política. Converteu-se. E como todo recém-convertido, esforça-se para demonstrar lealdade aos novos “companheiros” de credo, com indisfarçáveis ares de fanatismo. E perto dos “companheiros”, sejamos honestos, é um amador no que se refere ao uso – e abuso – do poder. Mas a cara de pau da ex-primeira dama não é nada perto da sede de vingança de Collor e do pragmatismo do PT (e nem vou falar da aliança com Maluf). Collor se alia aO PARTIDO, por oportunismo, e para atacar quem o derrubou. E O PARTIDO se alia a Collor como estratégia de poder contra ...... contra quem mesmo? Contra as oligarquias? Contra a direita? Contra a mídia? Hummmmm.
- Estou começando a achar que a conversão da Rosane foi sincera! 


3. Um dia caçador ...



E na semana passada foi o Demóstenes que deu adeus ao Senado e tornou-se inelegível até 2027 (Mas não se enganem. Quando Collor tornou-se inelegível por 8 anos, parecia que era a morte política dele. E olha onde ele está). Mas tão logo deixou o Senado, Demóstenes voltou a ocupar (não confundir com Occupy) o antigo cargo de Procurador de Justiça, na área criminal, em Goiás. Ou seja, o Senador, caçador de corruptos que se notabilizou no senado por discursos moralistas e juízos implacáveis sobre seus adversários, foi caçado por quebra de decoro parlamentar. Nesta quinta feira (re)assume a antiga função, com salário de 24 mil mensais (6 mil a mais que Rosane), e volta a ser o caçador (já que sua função é conduzir inquéritos criminais e denunciar organizações criminosas). Coisas da nossa singular República, que testemunhou o PFL brotar das entranhas da ARENA e depois converter-se no DEM (do Democrata Demóstenes).
O Senado, presidido pelo Sarney (o coronel ilustrado e metido a fazedor de versos), votando a cassação do Demóstenes foi realmente para quem tem estômago de urubu. Demóstenes teve o que mereceu, e o Senado não fez mais do que a obrigação, mas alguma coisa não cheirava bem. Os senadores caçavam o seu par, mas o faziam como se tivessem um cadáver escondido entre os dentes. Parecia aquela situação em que os presos de uma penitenciária se revoltam e tentam expulsar um criminoso que acabou de chegar, acusado de estupro. A moral dos presos (assassinos, ladrões, sequestradores) não lhes permite conviver com estupradores. Demóstenes foi despejado. Mas o tráfico de influências ligado à figura de Cachoeira ainda esta longe de ser esclarecido. Ainda faltam o Marconi Pirilo (PSDB) e o Agnelo Queiroz (PT) se explicarem. O primeiro, cada vez mais exposto, o segundo, cada vez mais blindado. De uma coisa o PT pode estar certo, já não se faz mais oposição como antigamente. A liderança mais articulada e aguda que O Partido conheceu, caiu. Demóstenes discursando para um Senado surdo e vazio, num misto de auto-piedade e ameaças veladas aos seus pares, foi o último suspiro da oposição. Já vai tarde Demóstenes. Apague a luz, e pague a conta. 
Ei, Demóstenes, deixe as lâmpadas.

Escrito em agosto de 2012.

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