Para quem tem estômago de Urubu, o cardápio político dos últimos dias desfilou iguarias (carcaças requintadas para paladares de esgoto).
Em três tempos.
1. O MACARRÃO dos companheiros.
Ontem de manhã sentei para ler as notícias e me deparei com a seguinte
matéria: “Delúbio Soares assume toda a culpa e nega mensalão”. O que
pensar? Simples: Delúbio esta fazendo pelo PT (Zé Dirceu, José Genuíno
e outros) o que o goleiro Bruno pediu (naquela carta interceptada pelo
agente carcerário) que Macarrão fizesse por ele. Ou seja, Delúbio está
para Dirceu e Genuíno assim como Macarrão está para Bruno. Não seria
prazeroso imaginá-los juntos na mesma penitenciaria? Pensando bem, não
seria uma ideia tão boa assim. Poderia potencializar o lado sombrio de
cada um. Os “companheiros” (não meus) tentariam aparelhar a
penitenciária, criariam um governo paralelo lá de dentro e, com ajuda do
goleiro e do seu fiel escudeiro, ocultariam as evidências do crime. Os
“companheiros” são amadores neste negócio de ocultação das evidências. O
mensalão (ou como queiram chamar o monstrengo) é o cadáver insepulto
maios famoso, e teimoso, da história recente da República. O corpo está
exposto, mas insiste-se em negá-lo. O outro cadáver, ao que tudo indica,
jamais será encontrado. Bruno e Macarrão não brincam de esconder
dinheiro na cueca!
- Será que Delúbio esconde uma tatuagem prometendo “amor eterno”? 2. Que saudades de Ruth Cardoso.
No último domingo, Rosane Collor (sim, ela ainda carrega o sobrenome do
homem a quem pretende desmascarar) apareceu no fantástico fazendo
“revelações inéditas” sobre o ex-marido e ex-presidente, nos tempos da
Casa da Dinda. O ponto alto de uma série de afrontas que a agora
convertida Rosane fez a inteligência nacional foi se queixar da pensão
de 18 mil reais que ganha do ex-marido. Ela ambiciona 40 mil. Disse que
esta escrevendo um livro que promete revelações ainda mais bombásticas. E
afirmou que Collor (que hoje ataca a imprensa e serra fileira com o PT
no Senado Federal) teme a publicação do livro. Ficou no ar a atmosfera
de chantagem, da ex-mulher insatisfeita com a pensão e que promete jogar
M no ventilador. A cara de pau da ex-primeira dama é de fazer cupim
corar! A entrevista com Rosane foi exibida na Globo, a mesma emissora
que tirou Collor do anonimato e o transformou num fenômeno político
nacional, apresentando-o como o “caçador de marajás”. E a entrevista com
Rosane foi conduzida num tom crítico ao passado recente, como se a
emissora não tivesse nada a ver com a eleição de Collor. Cinicamente, a
Globo lavou as mãos.... e jogou a água na nossa cara. Hoje, Collor ataca
em outra frente. De caçador de marajás, e inimigo número um da esquerda,
converteu-se ao Lulismo e tornou-se o paladino da moralização da
imprensa no Brasil. Está por trás do movimento que pretende regulamentar
a mídia e ataca a Revista Veja, que o enaltecia até momentos antes do
escândalo que o isolou, com a fúria característica do revanchismo.
Criador e criatura travam batalha sórdida sobre o corpo inerte de nossa
frágil democracia.
E esse negócio de conversão está mesmo na moda,
repararam? Rosane virou “crente”, Suzane Von Richthofen virou pastora
evangélica, Collor converteu-se ao Lulismo. Cada um adere à religião que
melhor lhe convier. Mas estes novos crentes são nômades e infiéis.
Pulam de igreja, como macacos que pulam de galho em galho (sem, é claro,
a elegância dos bichos). Essas “igrejas”, sem teologia e sem filtros,
são esconderijos passageiros para parasitas e bandidos em fim de
carreira. Collor é um Lulista recém-convertido. Era um zumbi político
que vagava pelos corredores do Senado em busca de sua própria alma. Os
“companheiros” estenderam a mão e o desalmado viu na estrela que antes
repudiava a guia para o seu retorno à vida política. Converteu-se. E
como todo recém-convertido, esforça-se para demonstrar lealdade aos
novos “companheiros” de credo, com indisfarçáveis ares de fanatismo. E
perto dos “companheiros”, sejamos honestos, é um amador no que se refere
ao uso – e abuso – do poder. Mas a cara de pau da ex-primeira dama não é
nada perto da sede de vingança de Collor e do pragmatismo do PT (e nem
vou falar da aliança com Maluf). Collor se alia aO PARTIDO, por
oportunismo, e para atacar quem o derrubou. E O PARTIDO se alia a
Collor como estratégia de poder contra ...... contra quem mesmo? Contra
as oligarquias? Contra a direita? Contra a mídia? Hummmmm.
- Estou começando a achar que a conversão da Rosane foi sincera! 3. Um dia caçador ...
E na semana passada foi o Demóstenes que deu adeus ao Senado e
tornou-se inelegível até 2027 (Mas não se enganem. Quando Collor
tornou-se inelegível por 8 anos, parecia que era a morte política dele. E
olha onde ele está). Mas tão logo deixou o Senado, Demóstenes voltou a
ocupar (não confundir com Occupy) o antigo cargo de Procurador de
Justiça, na área criminal, em Goiás. Ou seja, o Senador, caçador de
corruptos que se notabilizou no senado por discursos moralistas e juízos
implacáveis sobre seus adversários, foi caçado por quebra de decoro
parlamentar. Nesta quinta feira (re)assume a antiga função, com salário
de 24 mil mensais (6 mil a mais que Rosane), e volta a ser o caçador (já
que sua função é conduzir inquéritos criminais e denunciar organizações
criminosas). Coisas da nossa singular República, que testemunhou o PFL
brotar das entranhas da ARENA e depois converter-se no DEM (do Democrata
Demóstenes).
O Senado, presidido pelo Sarney (o coronel ilustrado e
metido a fazedor de versos), votando a cassação do Demóstenes foi
realmente para quem tem estômago de urubu. Demóstenes teve o que
mereceu, e o Senado não fez mais do que a obrigação, mas alguma coisa
não cheirava bem. Os senadores caçavam o seu par, mas o faziam como se
tivessem um cadáver escondido entre os dentes. Parecia aquela situação
em que os presos de uma penitenciária se revoltam e tentam expulsar um
criminoso que acabou de chegar, acusado de estupro. A moral dos presos
(assassinos, ladrões, sequestradores) não lhes permite conviver com
estupradores. Demóstenes foi despejado. Mas o tráfico de influências
ligado à figura de Cachoeira ainda esta longe de ser esclarecido. Ainda
faltam o Marconi Pirilo (PSDB) e o Agnelo Queiroz (PT) se explicarem. O primeiro, cada vez mais exposto, o segundo,
cada vez mais blindado. De uma coisa o PT pode estar certo, já não se
faz mais oposição como antigamente. A liderança mais articulada e aguda
que O Partido conheceu, caiu. Demóstenes discursando para um Senado
surdo e vazio, num misto de auto-piedade e ameaças veladas aos seus
pares, foi o último suspiro da oposição. Já vai tarde Demóstenes. Apague
a luz, e pague a conta.
Ei, Demóstenes, deixe as lâmpadas.Escrito em agosto de 2012.
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